Logo na abertura da reunião da Escola de Governo desta terça-feira (23), o governador Roberto Requião (PMDB) falou pela primeira vez sobre a denúncia de um suposto caixa 2 na campanha para a reeleição do prefeito de Curitiba Beto Richa (PSDB), considerando o fato uma "boa notícia". "Vamos começar a reunião com uma boa notícia", disse. Logo depois, sem mencionar o nome do tucano ou dos envolvidos no esquema, Requião defendeu uma punição "mais definitiva".
Como revelou reportagem da Gazeta do Povo, pelo menos 23 dos ex-candidatos a vereador pelo PRTB que abriram mão da disputa de 2008 aparecem em um vídeo recebendo dinheiro das mãos de Alexandre Gardolinski, coordenador do comitê pró-Beto, formado por dissidentes do partido. Cada um teria recebido R$ 1.600, pagos em duas parcelas de R$ 800.
No comentário, durante a reunião da Escola de Governo, o governador aproveitou para criticar, em tom irônico, a Justiça Federal pelo histórico de condenações que vem recebendo por acusar desafetos políticos. "Dizem os juízes que não posso chamar de ladrão um ladrão antes de ser condenado", falou. "Imagine-se andando pela Rua das Flores. De repente, um sujeito próximo de você arranca a bolsa de uma mulher. Não grite "pega ladrão", porque ele não foi condenado ainda. Você pode dizer "Atenção, tome cuidado com o suposto ladrão". Senão a Justiça pode condenar você", concluiu.
Enquanto o presidente da Companhia Paranaense de Gás (Compagás) fazia um discurso, entretanto, "vazou" na Escola de Governo o áudio da reportagem do Fantástico, da Rede Globo, que apresentou o vídeo gravado no comitê, em trecho que o nome de Richa aparecia. A gravação foi interrompida e nenhum presente citou o problema.
"Espero uma limpeza desse processo", disse Requião momentos depois. "Sem citar nomes, porque quem chama ladrão de ladrão paga indenização, por calúnia e difamação", reiterou. "Espero que esse pessoal perca o mandado e vá para a cadeia, que é o lugar de quem brinca com a democracia e corrompe a política brasileira". O público que acompanhava o discurso aplaudiu o governador.
O Ministério Público Eleitoral do Paraná está investigando as denúncias contra a campanha de Richa. Até o momento, a principal consequência da divulgação do vídeo foi a exoneração de Alexandre Gardolinski, que ocupava o cargo de gestor da Secretaria Municipal de Trabalho. Também foram demitidos o secretário municipal de Assuntos Metropolitanos, Manassés de Oliveira, e Raul DAraújo, superintendente da Secretaria de Assuntos Metropolitanos. Ambos aparecem nas gravações, juntamente com Gardolinski.
Beto Richa não comparecerá a debate na Paraná Educativa
Ainda durante a "escolinha", Requião lamentou o fato do prefeito Beto Richa e do senador Osmar Dias (PDT) não terem confirmado presença em um debate que será realizado pela TV Paraná Educativa. Na semana passada, o governador fez um convite público a diversas lideranças políticas paranaenses, entre eles o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) e o senador Alvaro Dias (PSDB), além de Richa e Osmar Dias.
"Infelizmente não teremos a possibilidade de ver nosso caminho iluminado por essas brilhantes lideranças", disse Requião referindo-se ao senador pedetista e o prefeito de Curitiba. "Lamento a recusa desses cérebros brilhantes. Imaginem a contribuição que poderiam dar. As ideias de Beto Richa sobre o pré-sal, sobre a política brasileira, sobre a crise econômica...".
O governador então estendeu o convite ao presidente da Itaipu Binacional Jorge Samek. "Tenho certeza que ele não recusará", disse. O debate deve ocorrer no programa Brasil Nação, do dia 28 de junho.
- O preço da lealdade
- Candidata diz que processará Manassés por assinar recibo
- Aliados de Richa dizem que vídeo é armação
- Oposição a Richa tentará criar CPI na Câmara dos Vereadores
- Gravação tucana teria omitido denúncias contra a prefeitura
- Assessor nega caixa 2, mas admite ajuda a dissidentes
- PSDB alugou a casa do comitê do PRTB pró-Beto Richa