Brasília - Depois dos 663 atos secretos editados ao longo de 14 anos sem que eles fossem publicados no boletim administrativo do Senado, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) descobriu a existência de duas contas bancárias "paralelas" com recursos da Casa que somam R$ 3,74 milhões. Esse dinheiro não seria movimentado desde 2004 e, segundo consultores da área de orçamento do Senado, é provável que seja referente ao pagamento de serviços prestados pelo Prodasen (Serviço de Processamento de Dados do Senado) à Câmara dos Deputados. Diante da denúncia, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), determinou que Comissão de Fiscalização e Controle investigue a existência das duas contas bancárias paralelas, uma corrente e outra de poupança, fora da chamada conta única do Tesouro Nacional, por onde passam todos os recursos destinados à Casa.
"Não sabemos ainda se isso é rotineiro ou não. Mas estamos vivendo um momento de muita tensão no Senado e qualquer fato já provoca suspeita. Se houver algum fato delituoso, os responsáveis serão punidos. Parece que uma das contas não teve movimentação recente. Se é alguma economia que se estava fazendo para o Senado, parabéns. Se tiverem sido criadas com outra intenção, coitado de quem fez", disse ontem o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), ao reconhecer que não sabia da existência das duas contas bancárias "Não há nenhuma suspeição sobre essas contas, mas também não há nenhum controle público sobre elas", afirmou o senador Casagrande.
As duas contas paralelas foram identificadas pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado, a pedido de Casagrande. Ele explicou que as contas foram abertas na Caixa Econômica Federal e não integram a conta única do Tesouro Nacional, obrigatória na administração pública federal. Casagrande encaminhou ofício ao presidente Sarney solicitando os extratos dos últimos cinco anos de movimentação das contas e o encerramento delas. "Realmente precisamos esclarecer essas contas", disse Heráclito Fortes.
CPI
Na tentativa de instalar uma CPI para investigar os recentes escândalos do Senado, o senador José Nery (PSol-PA) deu início ontem à coleta de assinaturas para viabilizar a criação da comissão. Para que a CPI seja instalada, é necessário que 27 senadores assinem o requerimento com o pedido da sua criação.
Batizada de CPI da Máfia do Senado, a comissão tem como objetivo investigar a edição de atos secretos na instituição, a suspeita de corrupção em empréstimos consignados firmados pela Casa, além da denúncia de superfaturamento nos contratos de prestação de serviços do Senado.
Nery só conseguiu, até agora, a assinatura do senador Jefferson Praia (PDT-AM). O senador reconhece que, diante da suspeita de que senadores podem estar envolvidos no escândalo dos atos secretos, terá dificuldades para conseguir apoio.
"Se a coisa for pior do que a gente imagina, paciência. Temos que cortar na própria carne. A recusa pode significar que a gente quer adiar a solução dos problemas. Os que têm postura ética não devem temer as investigações", disse Nery.
- Agaciel "esquentava" decisões secretas enganando senadores
- Comissão encontra 663 atos secretos na Casa
- Senadores ensaiam coro pela saída de José Sarney
- Investigação mostrará que atos secretos favoreceram senadores
- Mordomo de Roseana é pago pelo Senado
- Sarney recebe novos apoios de petistas e peemedebistas
- Grupo de senadores descontentes dará trégua, por enquanto
- Cresce a pressão sobre Sarney por mudanças no Senado