“A guerra só começou.” O desabafo de Ênio Andrade no vestiário do Couto Pereira deu a dimensão da dificuldade e da vitória do Coritiba sobre o Corinthians. Um apertado 1 a 0 obtido por um time mais organizado taticamente que o estrelado adversário, que pôs o Coxa na vice-liderança isolada do grupo e dependendo apenas de si para avançar à semifinal da Taça de Ouro.
Índio e Lela trocam de posição para decidir o jogo
Uma troca de posições de orgulhar os treinadores modernos decidiu o jogo no Couto Pereira. André saiu da lateral direita para o meio, de onde puxou o contra-ataque e tocou para Índio. Aberto pela direita como um ponta, o camisa 9 coxa-branca fez a jogada de fundo e chuveirou para os dois baixos e rápidos ponteiros alviverdes. Edson cabeceou e Lela mandou para a rede.
Eram 11 minutos de um jogo em que Ênio Andrade manteve o meio-campo reforçado com o marcador Marildo no lugar do ofensivo Marco Aurélio. “Ele é ótimo, utilíssimo. Não joga futebol para a torcida bater palma, mas marca ninguém, combate e é importante a qualquer esquema tático”, derreteu-se Ênio, ao falar sobre Marildo.
Coritiba 1 x 0 Corinthians
Estádio: Couto Pereira, em Curitiba.
Árbitro: José Roberto Wright (RJ).
Gol: Lela (CFC), aos 11/1º.
Renda: 255,8 milhões de cruzeiros.
Público: 25.162 pagantes.
Amarelos: Marildo (CFC); Casagrande e Serginho (C).
Vermelhos: Toby (CFC) e Casagrande (C).
Coritiba
Rafael; André, Gomes, Heraldo e Dida; Almir, Marildo e Toby; Lela, Índio e Edson. Técnico: Ênio Andrade.
Corinthians
Carlos; Ismael, Juninho, De León e Wladimir; Dunga, Zenon (Dicão) e Casagrande; Paulo César, Serginho Chulapa e João Paulo. Técnico: Carlos Alberto Torres.
FOTOS: No blog Memória FC, uma seleção de imagens de Coritiba 1 x 0 Corinthians
Bom público, mas sem casa cheia
A expectativa do Coritiba de lotar o Couto Pereira foi apenas parcialmente atendida. Ao todo, 25.162 torcedores pagaram ingresso – bem menos que a carga total de 62 mil entradas disponibilizada pela Federação Paranaense de Futebol. A arrecadação de 255,8 milhões de cruzeiros (o equivalente a R$ 424,6 mil) também ficou abaixo dos estimados 300 milhões de cruzeiros. A mudança do jogo para 18 horas, para atender a um pedido da televisão, foi apontada como responsável pela renda menor.
O bilionário Corinthians ficou devendo
O Corinthians investiu todo o dinheiro da venda de Sócrates – 3 bilhões de cruzeiros, ou R$ 5 milhões – na montagem do time para o Campeonato Brasileiro. Ao menos contra o Coritiba, cifras que não se transformaram em bom futebol, como atestam as notas e avaliações dos astros alvinegros feita pela Gazeta do Povo.
Juninho (zagueiro da seleção brasileira na Copa de 1982) – Não é mais aquele. Só dá pau e está sempre fora do setor, facilitando a penetração dos adversários. Nota 5
De León (campeão mundial pelo Grêmio e capitão da seleção uruguaia) – Completamente fora do jogo, estando aquém daquele zagueiro da seleção uruguaia e do Grêmio. Nota 4
Wladimir (ícone da Democracia Corintiana) – Péssimo. Não sabe marcar, está sempre fora do setor e dá espaços para as jogadas com os ponteiros contrários. Nota 3,5
Dunga (o próprio, então uma revelação do futebol brasileiro) – Está longe de ser aquele grande volante da seleção brasileira de juniores. Entrou no ritmo do futebol ruim que o Corinthians vem praticando nos últimos tempos. Nota 5
Casagrande (titular da seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa de 86) – Catimbeiro, desleal e muito presunçoso. Quando perdia as jogadas, batia nos adversários pelas costas, contando para tanto com a ajuda do péssimo árbitro que foi ontem José Roberto Wright. Nota 4
Serginho Chulapa (titular da seleção brasileira na Copa de 82) – Péssimo, estando em fim de carreira. Nota 3
O mundo além do futebol
Com 30% de abstenção, o PMDB realiza sua convenção estadual. É o primeiro passo do partido para definir sua posição na sucessão do prefeito (Maurício) Fruet, em 1985, e do governador (José) Richa, em 1986.
O chefe da polícia de São Paulo, Romeu Tuma, viaja para a Alemanha Ocidental com o que seriam os restos mortais do médico Josef Mengele, que atuava a serviço dos nazistas no campo de concentração de Auschwitz. Especialistas de Frankfurt realizariam exames para ter certeza de que se tratava de Mengele. O corpo havia sido exumado um mês antes, em São Paulo.
Sob forte escolta do Exército, 35 milhões de mexicanos vão às urnas eleger 400 novos nomes para a Câmara dos Deputados do país. A grande dúvida é se o Partido Ação Nacional, então havia 56 anos no poder, conseguiria manter a maioria no legislativo.
Relembre todos os capítulos do Diário de 85 do Coritiba
1º/7/1985 – Sem Lela, o Coritiba volta a respirar a Taça de Ouro
2/7/1985 – Seu Ênio dá o recado: Quem treina pensando na namorada não rende”
3/7/1985 – Empate no Recife e uma sombra para Ênio Andrade
4/7/1985 – Renda milionária contra o Corinthians anima o Coritiba
5/7/1985 – Almir pronto para Casão: “Vou marcá-lo que nem carrapato”
6/7/1985 – Evangelino promete bicho molhado contra o Corinthians
7/7/1985 – Lela decide contra o Corinthians
8/7/1985 – O saldo da batalha com o Corinthians: Toby e Índio fora
9/7/1985 – Bicho anima o ambiente no “Beco do Sossego”
10/7/1985 – Dida decide no Alto da Glória e é assaltado na Água Verde
11/7/1985 – Rafael sente o Coritiba na semifinal: “Por que não?”
12/7/1985 – Força máxima contra a crise do Corinthians
13/7/1985 – Coritiba perde no fim e seca o Joinville
14/7/1985 – Sport bate o JEC e mantém o Coxa líder
15/7/1985 – Alimentação em SC preocupa o Coritiba
16/7/1985 – Coxa viaja com uma dúvida para decisão em Joinville
17/7/1985 – Careta de Lela deixa o Coritiba com um pé na semifinal
18/7/1985 – Ênio avisa: “Time meu não tem salto alto”
19/7/1985 – Suspeita de espionagem agita o Alto da Glória
20/7/1985 – Torcida coxa se mobiliza para ver o time chegar à semifinal
21/7/1985 – O Coritiba é semifinalista da Taça de Ouro
22/7/1985 – Bicho milionário para a vaga na semifinal
23/7/1985 – Sem mistério, Ênio define o Coritiba da semifinal
24/7/1985 – Depois do blecaute, gol de Heraldo ilumina o Couto Pereira
25/7/1985 – Ênio Andrade cotado para a seleção brasileira
26/7/1985 – O mago do Coritiba prepara o caminho para a final
27/7/1985 – Coritiba viaja para BH e reserva hotel no Rio
28/7/1985 – Coritiba na final. E Rafael vira santo
29/7/1985 – CBF confirma final em jogo único no Maracanã
30/7/1985 – Na véspera da final, Coxa treina para prorrogação e pênaltis
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