Após dois dias e cinco reuniões, uma a mais que na eleição de Bento XVI, os 115 cardeais eleitores escolheram o argentino Jorge Mario Bergoglio, 76 anos, para assumir o Trono de Pedro. A escolha surpreendeu os analistas, já que o arcebispo de Buenos Aires não constava em nenhuma das listas de papáveis.
Ele é o primeiro papa latino-americano e o primeiro jesuíta a ser pontífice. O novo papa adotou o nome de Francisco. "Vocês sabem que o objetivo do conclave era dar um bispo a Roma. E parece que meus amigos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo. Mas aqui estamos. Obrigado. E antes de mais nada, gostaria de fazer uma oração pelo nosso papa emérito, Bento XVI. Oremos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde", disse o novo papa na sacada da Basílica de São Pedro, antes de rezar o Pai-Nosso.
Às 15h06 do horário de Brasília (19h06, horário do Vaticano), a fumaça branca que simboliza a escolha do novo papa saiu pela chaminé da Capela Sistina. Os sinos da Basílica de São Pedro confirmaram que o novo pontífice aceitou a missão de comandar a Igreja. Poucos instantes depois, os sinos da Catedral de Milão, de São Francisco em Assis e de Florença também começaram a tocar.
Ônibus
O arcebispo de Buenos Aires é um jesuíta intelectual que viaja de ônibus e tem uma abordagem própria da pobreza: quando foi nomeado cardeal, Bergoglio convenceu centenas de argentinos a não voar até Roma para celebrar com ele e, em vez disso, doar o dinheiro que gastariam para os pobres.
Reforma
Considerado um moderado, de carreira acadêmica, ele é aberto ao diálogo com outras religiões e nunca foi acusado de nada relacionado à pedofilia. A reforma da Cúria está ente suas prioridades. Bergoglio também foi um forte oponente à legalização do casamento gay na Argentina em 2010, argumentando que "crianças necessitam do direito a serem criados e educados por um pai e por uma mãe".
Uma explosão de gritos da multidão de fiéis presentes na Praça de São Pedro saudou a fumaça branca: "Viva o papa! Viva o papa!".
De Buenos Aires a Roma
Jorge Mario Bergoglio, filho de imigrantes italianos, nasce em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936.
1957: Após cursar Química na Escola Técnica Industrial Hipólito Yrigoyen, entra para a Companhia de Jesus.
1963: Vai estudar no Chile e volta à Argentina para lecionar Literatura e Psicologia em colégios católicos; inicia os estudos de Teologia.
1969: É ordenado padre e, pouco tempo depois, perde um pulmão depois de uma cirurgia.
1976: É acusado de colaborar com a ditadura militar argentina. Segundo Horacio Verbitsky, autor de um livro sobre a ditadura, Bergoglio foi acusado de delatar um médico e dois padres jesuítas, todos ligados à Teologia da Libertação. Em 2005, já cardeal, ele negou veementemente as acusações.
1980: É nomeado reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, onde tinha estudado Filosofia. Ocupou o cargo até 1986, quando foi à Alemanha para defender a tese de doutorado.
1992: Torna-se bispo auxiliar de Buenos Aires.
1998: É nomeado arcebispo metropolitano de Buenos Aires, região com 3,5 milhões de fiéis.
2001: Em fevereiro, é feito cardeal pelo papa João Paulo II; em vez de pedir uma roupa nova, o que é comum, pede para usar as vestes do antecessor argentino, cardeal Antonio Quarracino, morto em 1998.
2002: No auge da crise econômica, Bergoglio diz para os argentinos pararem de "rezar'' para o Fundo Monetário Internacional (FMI), que só os tornará "mais endividados".
2005: De 2005 a 2011, com alguns intervalos, preside a Conferência Episcopal Argentina. Passa a ser um dos mais cotados para se tornar papa, mas o conclave elege Joseph Ratzinger.
2010: Durante a tramitação do projeto que autorizou a união gay na Argentina, Bergoglio manifestou oposição e disse tratar-se de "uma jogada do pai da mentira para confundir e enganar os filhos de Deus''.
2012: Em setembro, após a corte suprema da Argentina autorizar a interrupção da gravidez de uma vítima de estupro, o cardeal lamenta a decisão e discursa contra o aborto.
2013: Eleito papa, adota o nome de Francisco.
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