Extremistas da Al-Qaeda no Iraque prometeram guerra aos "adoradores da cruz", e manifestantes iraquianos queimaram uma efígie papal nesta segunda-feira em Basra, quase uma semana depois das polêmicas declarações do papa Bento XVI sobre o Islã, enquanto a Igreja e estadistas tentavam acalmar os ânimos.
A declaração dos grupos liderados pelo braço da Al-Qaeda no Iraque foi feita mesmo depois de o Papa ter dito, no domingo, que lamentava profundamente o fato de os muçulmanos terem se ofendido com a citação de textos medievais feitas por ele numa palestra sobre o Islã e a guerra santa, na terça-feira da semana passada.
"Dizemos ao adorador da cruz (o papa) que você e o Ocidente serão derrotados, como acontece no Iraque, no Afeganistão, na Chechênia", disse o Conselho Mujahideen Shura na internet. "Quebraremos a cruz e derramaremos o vinho(...) Deus vai ajudar os muçulmanos a conquistar Roma... Que Deus nos permita degolá-los, e fazer de seu dinheiro e de seus descendentes a recompensa dos mujahideen", disse a declaração, publicada no domingo.
Na cidade de Basra, no Sul do Iraque, cerca de 150 manifestantes entoaram gritos de guerra e queimaram uma efígie do papa. Também foram queimadas bandeiras dos Estados Unidos, da Alemanha e de Israel.
As citações usadas pelo papa na palestra de terça-feira condenavam o uso da violência para disseminar a religião. Alguns líderes religiosos chegaram a chamar o discurso de o início de uma nova cruzada cristã contra o Islã.
O Vaticano orientou seus representantes em países muçulmanos a explicar as palavras do papa. O novo secretário de Estado do papa, cardeal Tarcisio Bertone, disse que os núncios dos países muçulmanos vão fazer visitas a líderes religiosos e do governo.
A Comissão Européia disse que as declarações do papa sobre o Islã não deveriam ser retiradas de contexto. "Na visão da comissão, qualquer reação deve ser baseada no que foi realmente dito e não em declarações sendo tiradas deliberadamente de contexto", disse Johannes Laitenberger, porta-voz do braço executivo da União Européia.
O presidente da França, Jacques Chirac, não chegou a criticar o Papa, mas pediu um uso mais diplomático das palavras.
"Não é meu papel nem minha intenção comentar as declarações do papa. Só quero dizer, em termos gerais, (...) que precisamos evitar qualquer coisa que piore as tensões entre povos ou entre religiões", disse Chirac à rádio Europe 1.
O chefe da igreja anglicana mundial, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, defendeu Bento XVI:
"O papa já pediu desculpas e acho que suas opiniões devem ser julgadas levando em conta todo o seu histórico, em que ele se manifestou de forma muito positiva sobre o diálogo", disse à rede BBC Williams, que é o líder espiritual de 77 milhões de anglicanos no mundo todo. "Há elementos no Islã que podem ser usados para justificar a violência, do mesmo modo como no cristianismo e no judaísmo", acrescentou.
No Irã, um porta-voz do governo disse nesta segunda-feira que o pedido de desculpas do papa era um "bom gesto", mas que não era suficiente.
O Papa citou na palestra as críticas ao profeta Maomé feitas pelo imperador bizantino Manuel II, que disse que o profeta só trouxe o mal, "como sua ordem para disseminar pela espada a fé que ele pregava".
Na Somália, uma freira italiana foi morta no domingo, num ataque que uma fonte islamita disse poder estar ligado à polêmica. O Vaticano afirmou esperar que tenha se tratado de um "fato isolado".
O presidente da Associação Islâmica da China, Chen Guangyuan, disse que o Papa "insultou tanto o Islã como o profeta Maomé. Isso abalou seriamente os muçulmanos em todo o mundo, inclusive os da China", segundo a agência Xinhua.
Na polêmica do ano passado causada pela publicação de caricaturas do profeta Maomé por um jornal dinamarquês, a China foi reticente em se manifestar. O país asiático afirma que seus católicos pertencem a uma Igreja estatal e local que não reconhece a autoridade do papa. Os muçulmanos também estão sujeitos ao controle do Estado.
Em Jacarta, cerca de 100 muçulmanos indonésios fizeram uma manifestação pacífica de protesto diante da embaixada do Vaticano.
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