Ditador ordenou atentado em 88, afirma ex-ministro
Estocolmo - O ditador líbio Muamar Kadafi ordenou pessoalmente o atentado de Lockerbie, em 1988, afirmou o ex-ministro líbio da Justiça, Mustapha Abdel Jalil, ao jornal sueco Expressen. "Tenho provas disso", declarou o ministro, que se demitiu na última segunda-feira, sem fornecer mais detalhes sobre a acusação. "Para esconder sua responsabilidade, ele fez tudo o que pôde para tirar Al Megrahi da Escócia", afirmou.
Abdel Jalil renunciou ao cargo de ministro em protesto contra a violenta repressão aos manifestantes que pedem a saída de Kadafi.
O ataque contra um avião da Pan Am sobre Lockerbie, na Escócia pelo qual o líbio Abdel Baset al Megrahi foi condenado em 2001 deixou 270 mortos em 21 de dezembro de 1988.
O terrorista foi libertado de uma prisão escocesa em agosto de 2009, sob a alegação de que sofria de um câncer de próstata e morreria em breve. Ele está vivo até hoje.
De acordo com o "Expressen", o repórter Kassem Hamade entrevistou o ex-ministro "em uma grande cidade da Líbia". O local exato não foi revelado por razões de segurança.
Nos últimos anos, Kadafi se esforça para tirar seu país do isolamento, anunciando, em 2003, que abandonaria seu programa nuclear e renunciaria ao terrorismo. Ele também disse que a Líbia aceitaria a responsabilidade pelo atentado de Lockerbie e pagaria indenização às famílias das vítimas. No entanto, ele nunca admitiu ter ordenado pessoalmente o ataque.
Para analistas, fortuna de líder chega a bilhões
Analistas suspeitam que o ditador Muamar Kadafi e seus nove filhos tenham bilhões de dólares em contas secretas em Dubai, no sudeste da Ásia e no golfo Pérsico. A maior parte da riqueza estimada da família Kadafi provém das reservas de petróleo da Líbia, que está entre os 20 maiores produtores.
Em entrevista ao jornal britânico Guardian, Tim Niblock, especialista em Oriente Médio da Universidade de Exeter, disse que boa parte da diferença entre o que a Líbia lucra explorando petróleo e os gastos do governo é provavelmente embolsada por Kadafi e seus filhos. "É dificílimo saber quanto eles têm guardado; a elite governante esconde dinheiro em todo tipo de lugar. Mas trata-se de, no mínimo, bilhões de dólares", avalia. A tradição de ditadores esconderem parte de sua fortuna em bancos estrangeiros ou em nome de aliados é histórica.
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São Paulo - Forças antigoverno fecharam o cerco ontem ao ditador da Líbia, Muamar Kadafi. Após uma semana de choques, opositores reivindicam controle do leste do país e da fronteira com a Tunísia, cercando o governo em Trípoli. Segundo relatos, milhares de mercenários de países vizinhos contratados por Kadafi dirigiam-se para a capital a fim de garantir o controle sobre o aparentemente último reduto da ditadura líbia.
Em novo sinal de implosão do regime, dois pilotos da Força Aérea líbia ejetaram-se de seus caças Sukhoi no deserto após rejeitarem ordens para atacar a cidade de Benghazi, segunda maior da Líbia e sob controle opositor.
Um deles, relataram moradores de Breqa cidade próxima ao local onde eles caíram de paraquedas ao site Quryna, pertence à mesma tribo de Kadafi, indício de deserção em uma das principais bases do seu regime.
Após controlarem toda a região leste a partir de Benghazi desde ao menos a véspera, opositores disseram ter dominado Misratah, a terceira maior do país, e outras duas cidades no golfo de Sirt terra do ditador. A oeste de Trípoli, rebeldes anunciaram o controle de cidades a apenas 50 km da capital, embora nessas houvesse ainda relato de combates. Mesmo na capital, no entanto, onde há registro de tiros e violência nas principais vias, opositores se organizavam para estabelecer pauta de reivindicações ao regime.
Embora não seja clara a composição das forças opositoras, estas têm atraído desde intelectuais, juízes, médicos e jornalistas, ou seja, integrantes de uma classe média líbia, a dissidentes de tribos que compõem a intrincada base política do regime.
Entre as reivindicações da oposição tornadas públicas estão uma assembleia nacional com representantes das regiões do país para estabelecer governo interino e o estabelecimento de uma Constituição que o país não tem.
Mas Kadafi não dá sinais de que pretenda deixar o cargo que ocupa desde 1969, quando chegou ao poder mediante um golpe de Estado. Na segunda-feira, em discurso à tevê estatal de mais de uma hora, o ditador afirmou que só sai como mártir, qualificou os opositores de "drogados e "bêbados e exortou partidários a perseguir os rebeldes "nas suas casas.
Ontem, o vice-chanceler líbio, Khaled Kaim, tentou angariar apoio externo afirmando que o leste do país tomado pela oposição já abriga um emirado da rede terrorista Al-Qaeda governado por ex-detento de Guantánamo prisão dos EUA em Cuba.
Os protestos opositores na Líbia tiveram início há cerca de uma semana, na esteira da onda de revolta popular que varreu do mapa os ditadores da Tunísia e do Egito.
Desde o fim de semana, a versão líbia da onda tem se caracterizada pelo grau de violência da repressão pelo governo. O chanceler italiano, Franco Frattini, disse ontem achar que estimativas de até mil mortos são "críveis. A Federação Internacional pelos Direitos Humanos (FIDH), que reúne 164 organizações não governamentais, informou que pelo menos 640 pessoas foram mortas.
A deterioração da situação no país já leva a especulações sobre cenários pós-Kadafi, cujo regime se caracterizou pela centralização e bloqueio à ascensão de nomes. Um dos citados para sucedê-lo, porém, é o chefe da empresa estatal de petróleo, o ex-premier Shukri Ghanem.
Já um dos filhos do ditador, Saadi, afirmou ao Financial Times que um novo governo poderia ter Kadafi no papel de "grande pai. Outra preocupação é com o preço do petróleo. A instabilidade no país, que detém as segunda maior reserva do recurso natural da África, fez o preço do barril tipo Brent chegar ontem aos US$ 111.