Os confrontos que já deixaram 14 mortos e centenas de feridos em cinco dias no Cairo envergonham o poder militar, criticado pelo mundo inteiro nesta terça-feira (20) por sua repressão contra os manifestantes, particularmente contra as mulheres.
O ministério da Saúde confirmou a morte de 14 pessoas desde a sexta-feira passada, enquanto o doutor Ihsane Kamil Georgi, chefe da medicina legal, revelou que nove vítimas fatais foram baleadas.
Na Praça Tahrir, manifestantes jogaram pedras em resposta aos tiros da polícia, antes do retorno à calma nesta manhã.
Um funcionário do ministério da Saúde anunciou na televisão estatal que quatro pessoas morreram nesta terça-feira. Outro responsável da Saúde, Adel Adaoui, revelou que há mais de 600 feridos, incluindo 106 hospitalizados.
"Nestes últimos dias, os confrontos aconteceram entre 3H30 e 5H00 da manhã" (23H30 e 1H00 de Brasília)", informou.
Ativistas convocaram uma manifestação na Praça Tahrir às 15H00 (11H00 de Brasília) para denunciar a violência contra as mulheres e manifestantes em geral.
O jornal independente Tahrir, criado após a queda do presidente Hosni Mubarak em fevereiro, escreveu em sua manchete "a força que ataca a honra", com uma foto de um soldado segurando uma mulher pelos cabelos, enquanto outro batia com um bastão.
Revolução
A violência contra as mulheres nas manifestações são indignas da revolução e "desonram o Estado" egípcio, acusou a secretária de Estado americana Hillary Clinton, com uma linguagem pouco diplomática.
A alta comissária dos direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, condenou "a repressão brutal" dos manifestantes.
"A violência brutal contra as mulheres que manifestavam pacificamente é particularmente chocante e não pode permanecer impune", ressaltou.
O Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), que governa o Egito desde a queda do antigo regime, defendeu a atitude das forças de segurança.
O general Adel Emara, membro da CSFA, reconheceu na segunda-feira (19) que os soldados atingiram uma manifestante, descobriram sua barriga e mostraram seu sutiã ao arrastá-la pelo chão, uma cena particularmente chocante que foi fotografada em um país conservador. Mas, tentou justificar o comportamento dos soldados. "Sim, isso aconteceu. Mas é preciso ver quais eram as circunstâncias", afirmou, assegurando: "estamos investigando, não temos nada a esconder".
Um grupo de deputados recém-eleitos nas eleições que começaram no dia 28 de novembro, as primeiras pós-Mubarak, observaram um sit-in diante da Suprema Corte para exigir o fim da violência contra os manifestantes e a abertura de uma investigação.
Confrontos
Os confrontos explodiram na sexta-feira entre a polícia e manifestantes acampados desde o final de novembro na frente da sede do governo em protesto contra a nomeação do primeiro-ministro Kamal el-Ganzuri, que já ocupava este posto na era Mubarak.
Os manifestantes exigem igualmente o fim do poder militar e visam principalmente o chefe das Forças Armadas e do Estado, o marechal Hussein Tantawui.
Esta violência é a mais grave desde os confrontos que fizeram pelo menos 42 mortos, principalmente no Cairo, poucos dias antes das eleições legislativas.
Ela eclipsou a segunda fase de votação, que acontece na quarta e quinta-feira em um terço do país, e que confirmou a predominância clara de grupos islâmicos em detrimento dos partidos liberais e dos movimentos da revolta anti-Mubarak.
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