Governador posa para foto com o cartão da Metrocard| Foto: Divulgação/Pedro Ribas/ANPr/

A desintegração financeira da Rede Integrada de Transporte (RIT) será materializada para os usuários do sistema a partir da próxima quinta-feira (6), quando entrarão em funcionamento os novos validadores das linhas integradas metropolitanas do sistema. Os equipamentos terão sistema de biometria facial para evitar fraudes com gratuidades e a promessa é de que, até o fim do ano, o usuário poderá consultar a previsão de chegada do ônibus em todos os pontos da rede por meio de um aplicativo no celular. O sistema já está disponível em todos os 12 ônibus da linha Colombo/São José.

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E os créditos?

Com a mudança, os cartões da Urbs deixam de ser aceitos definitivamente nas linhas metropolitanas. Até então, passageiros metropolitanos que tinham créditos nesse bilhete adquiridos antes de 6 de fevereiro ainda conseguiam utilizá-los em embarques realizados fora de Curitiba ou em tubos na capital, mas que servem apenas a linhas metropolitanas. Agora, esses créditos poderão ser utilizados apenas no sistema urbano da capital.

Os passageiros metropolitanos que têm vales de papel (modelo utilizado durante a transição) poderão utilizá-los até o final do ano. Esses vales deixarão de ser vendidos a partir da próxima quarta-feira (5).

Novo sistema gera polêmica

A Metrocard é uma associação sem fins lucrativos que reúne as 17 empresas operadoras da região metropolitana . Com a desintegração financeira da RIT, a gestão das linhas metropolitanas integradas deixou de ser realizada pela Urbs (órgão da prefeitura de Curitiba) e passou para a Comec – que repassou a gestão da bilhetagem eletrônica para essa associação. Essa transferência gerou polêmica.

Agora, na prática, são os próprios operadores das linhas que farão a gestão dos recursos financeiros. O Ministério Público do Paraná (MP), inclusive, abriu apuração sobre uma denúncia anônima recebida pelo órgão no último dia 1.º. A Metrocard alega que a Comec terá acesso total, irrestrito e em tempo real de todas as informações do sistema, inclusive dos créditos vendidos e utilizados. As investigações do Ministério Público estão em curso.

O deputado oposicionista Roberto Requião Filho (PMDB) chegou a entrar com uma ação civil pública na 5.ª Vara da Fazenda de Curitiba contra a decisão da Comec, por entender que a transferência da bilhetagem para a Metrocard se configura em um “ato ilegal e lesivo” ao estado, que, segundo a ação movida por ele, “atenta contra o princípio da segregação de funções e da moralidade administrativa”.

Mas o pedido de liminar do deputado foi negado pela juíza substituta Beatriz Fruet de Moraes. Para a magistrada, o parlamentar não “apresentou nenhum documento capaz de comprovar a possibilidade de prejuízo” (leia mais no texto ao lado).

Créditos expirados

A Gazeta do Povo mostrou, em reportagem publicada em 26 de julho, que todo o crédito comprado nas 83 linhas não integradas da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e que vence em um ano vai para a conta da Metrocard.

Um relatório ao qual o jornal teve acesso mostrou que o total de créditos expirados por mês chegou a R$ 300 mil no último trimestre. Entre abril e junho deste ano, a Metrocard registrou mais de R$ 900 mil em créditos de vale-transportes expirados. A associação diz estar amparada por lei e nega esse montante. Segundo o grupo, o valor dos créditos expirados entre abril e junho foi de cerca de R$ 3 mil por empresa por mês.

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O governador Beto Richa (PSDB) apresentou os equipamentos nesta terça-feira (4), em cerimônia que contou com a participação de empresários do setor, diretores da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) e do secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Júnior (PSC).

“Esse sistema vai garantir segurança, eficiência e transparência, trazendo diversos benefícios para a população”, disse o governador.

No evento, Ratinho Júnior rechaçou as suspeitas que recaíram sobre a gestão da bilhetagem e disse que a Comec “trabalhou alinhada com o Ministério Público (MP) para que o processo de transição da bilhetagem fosse gradual”. “A fiscalização será permanente, para permitir que o foco fique na avaliação de qual dos dois sistemas – Metrocard ou Urbs – é o melhor. O que era caixa preta agora para nós e uma porta aberta para o usuário”, afirmou o secretário.

O MP informa que a investigação que o órgão iniciou sobre a bilhetagem na RMC ainda está em curso.

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Já o presidente da Comec, Omar Akel, criticou a Urbs pela desintegração do sistema. “Há sete meses fomos expulsos do ventre do sistema integrado por uma iniciativa precipitada e infeliz da prefeitura [de Curitiba], que não entendeu que somos um conjunto metropolitano”, afirmou.

Os novos equipamentos serão instalados nas 120 linhas metropolitanas integradas. Ao todo, são 570 veículos. O investimento é de R$ 9 milhões, segundo a Metrocard. Por dia, essas linhas transportam mais de 460 mil passageiros. As linhas metropolitanas integradas representam 28% do faturamento da RIT. Depois da desintegração financeira, em média, R$ 20 milhões mensais deixaram de entrar no Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC), que segue, no entanto, recebendo os recursos das linhas urbanas. A gestão dos recursos metropolitanos agorá será feita Metrocard, sob fiscalização da Comec.

Novidades

De acordo com a Metrocard, os novos equipamentos e cartões virão acompanhados de inovações tecnológicas. Os validadores instalados nos ônibus, por exemplo, têm biometria facial. Essa tecnologia permitirá que apenas o beneficiário legal da gratuidade utilize o cartão. Esses usuários, segundo a empresa, poderão continuar utilizando os cartões da Urbs até o próximo dia 30 de outubro. A partir do próximo dia 22, esses passageiros deverão fazer o cadastramento, na Metrocard ou terminais metropolitanos.

Outra novidade é o aplicativo Ônibus Fácil, já disponível para smartphones. Com ele, o usuário poderá acompanhar em tempo real a localização de veículos, linhas e pontos de embarque. Passageiros com mobilidade reduzida ainda poderão saber se o ônibus mais próximo do seu ponto de embarque está acessível.

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Além disso, cegos poderão solicitar a parada com antecedência. Esse recurso é possível graças à conexão do ônibus com o aplicativo, fazendo com que o motorista receba o alerta emitido pelo passageiro. Todas essas funcionalidades dependem da instalação de um novo sistema GPS em todas as linhas – o que ainda não ocorreu. Até o momento, apenas 12 ônibus articulados que servem à linha Colombo/São José já estão preparados para a nova tecnologia. Segundo Lessandro Zem, presidente da Associação Metrocard, a linha foi escolhida por ser a mais extensa e servir aos passageiros de três municípios diferentes (ela também faz parada no Terminal de Pinhais).

O cartão transporte da Metrocard também poderá ser habilitado em um cartão pré-pago da Mastercard, caso o usuário assim deseje. A parceria com a empresa internacional foi apontada pelo estado como prova de que o novo sistema é confiável e transparente.