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“Niemeyer defendia que o arquiteto não é um espe­­cialista, mas um gene­­ralista. E que a arqui­­tetura não é im­­por­­tante, impor­­tante é a vida.” João Virmond Suplicy, arquiteto | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
“Niemeyer defendia que o arquiteto não é um espe­­cialista, mas um gene­­ralista. E que a arqui­­tetura não é im­­por­­tante, impor­­tante é a vida.” João Virmond Suplicy, arquiteto| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Um dia para não esquecer. Em 1997, durante o 15.º Congresso de Arquitetos do Brasil, na Ópera de Arame, em Curitiba, o arquiteto João Virmond Suplicy se viu de braço dado com Oscar Niemeyer, cruzando a multidão que lotava o teatro. Ainda pôde ouvir os gritos e os aplausos. Sua ligação com o mito, dali em diante, seria cada vez mais intensa de modo que falar de Niemeyer por aqui é falar de João Suplicy.

A história de Suplicy com a de Niemeyer começa no final década de 1980, quando, em parceria com o amigo Paulo Leminski, publicou o inventivo livro-objeto Winterverno. A obra mesclava os desenhos de João com a poesia de Leminski e, na sua concepção, deveria incluir uma entrevista com Oscar Niemeyer. "Não rolou." Ficou, como se diz, uma coisa malresolvida. Em 1996, o paranaense, então diretor cultural do Instituto de Arquitetos do Brasil, decide levar o livro pessoalmente ao arquiteto carioca. "Não rolou de novo".

Mas tinha de ser. Em janeiro de 1997, João de passagem pelo Rio ligou no escritório de Niemeyer, pediu por ele, e num golpe de sorte ouviu um inconfundível. "É ele... pode vir agora". O curitibaníssimo Winterverno finalmente chegara aos lados mais quentes dos trópicos e, junto com o livro, o ousado convite de que o então nonagenário arquiteto viesse à capital paranaense para um congresso. Ficaram uma hora conversando – e nada sobre mais-valia e luta de classes. "Fiquei impressionado com a generosidade do Oscar. Ao nos despedirmos, disse: ‘Quando passar por aqui, suba...’", lembra Suplicy sobre o homem que não só recebeu o forasteiro do Paraná como acertou de fazer o desenho dos fôlderes e cartazes do congresso que ocorreria em outubro.

"Voltei para casa com a consciência de que se iniciava ali uma reflexão sobre a obra de Niemeyer em Curitiba", acrescenta Suplicy, que tem mestrado e doutorado sobre Niemeyer e é autor do projeto da Galeria Casa da Imagem, uma citação clara à linguagem do arquiteto. Meses depois, Niemeyer, de braço dado com o novo amigo, esteve em Curitiba, quase botando a Ópera de Arame abaixo, garantindo que aquele congresso não cairia no esquecimento.

Mas o bom mesmo veio na sequência da tal noite de muitas emoções. Suplicy decidiu levar Niemeyer para rever o Edifício Castello Branco, única obra dele na cidade, onde em 2002 seria instalado o Novo Museu, logo em seguida rebatizado de Oscar Niemeyer. Pois Oscar sequer se lembrava de tê-lo feito, apesar dos indícios de que tenha acompanhado parte da construção. A curiosidade do nome que deram à obra – uma homenagem a um presidente militar em prédio erguido por um comunista – fez pouca diferença. João e Niemeyer saíram da visita com a certeza de que a tal obra, mais do que esquecida, estava inacabada. Não era um Niemeyer legítimo, pois lhe faltava uma forma orgânica, marca de sua arquitetura.

A conversa, daquele momento em diante só evoluiu. Os assistentes de Niemeyer, no Rio, se deram conta de que não havia registros do Castello Branco nos arquivos da Fundação Oscar Niemeyer. Acontece. E João, àquela altura, já tinha se ocupado de lhe contar que havia a ideia de o lugar – usado pela burocracia do estado – ser transformado num museu. O então governador Jaime Lerner não deixou a oportunidade passar.

No dia seguinte à abertura do evento na cidade, encontrou-se com Niemeyer, que a exemplo do ocorrido em outros lugares colaborou com a reforma, sem vaidades.

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