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O papa Francisco anunciou na manhã deste domingo (28), durante a Missa do Envio, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, que a cidade de Cracóvia, na Polônia, será a sede da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em 2016.
Na praia, que recebeu cerca de 3 milhões de peregrinos, Francisco pediu à multidão que não fique "trancafiada" e assuma uma postura missionária e de fortalecimento da Igreja, em especial na América Latina. Segundo o papa, esta missão "é uma ordem, sim, mas não nasce da vontade do domínio ou do poder; nasce da força do amor".
Como em outros discursos feitos em seis dias de viagem ao Brasil, o pontífice pediu "coragem" aos jovens para levarem os valores da Igreja às "periferias existenciais" e aos indiferentes à religião. O pontífice reforçou várias vezes o tema da Jornada. "Mas atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas 'Ide e fazei discípulos entre todas as nações'".
O papa retomou a preocupação com o distanciamento da Igreja dos fiéis e pediu que os jovens, em grupo, propaguem os valores cristãos. "A experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês e no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde" disse o papa para os milhares de jovens, muitos deles cansados, porém, muito animados e comovidos, depois da passarem a noite na praia.
"De forma especial, queria que este mandato de Cristo, 'ide', ressoasse em vocês, jovens da América Latina, comprometidos com a missão continental promovida pelos bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Não tenham medo de levar Cristo a todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente".
Francisco citou o padre José de Anchieta, que "partiu em missão quando tinha apenas 19 anos. Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem. Levar o Evangelho é levar a força de Deus para extirpar e destruir o mal e a violência, para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio para construir um mundo novo", afirmou.
Chimarrão e flash mob
O pontífice chegou por volta de 9h30 à praia e tomou chimarrão no papamóvel. Milhares de peregrinos acamparam na praia. Estão presentes a presidente Dilma Rousseff, a presidente argentina, Cristina Kirchner, e o presidente da Bolívia, Evo Morales.
Da sacristia montada no palco Praia de Copacabana, o papa Francisco assistiu ao que a organização da Jornada Mundial da Juventude apresentou como "o maior flash mob do mundo". Trata-se de uma dança coreografada seguida pela multidão que aguardava o início da missa de encerramento. A dança foi encenada também pelos bispos e cardeais que já estavam no palco. Padres, freiras e leigos dançaram animadamente.
Prevista para ser realizada inicialmente em Guaratiba, a missa deste domingo teve de ser alterada por causa do lamaçal no Campus Fidei. Após a Missa de Envio, o papa fará a Oração de Ângelus, ao meio-dia, também em Copacabana.
Às 16 horas, Francisco se reunirá com bispos da Conferência Episcopal Latino-Americana (Celam), no Centro de Estudos do Sumaré, onde ficou hospedado durante sua passagem pelo Rio. Ainda antes de embarcar de volta para Roma, na Base Aérea do Galeão, no fim da tarde, o santo padre terá um encontro com voluntários da Jornada Mundial.
Resistentes na praia
Com a temperatura variando entre 15 e 17 graus centígrados, os fiéis que participaram da vigília durante a noite amanheceram na Praia de Copacabana. Às 7h30, a orla, sobretudo no trecho em frente ao Copacabana Palace, já estava tomada de fiéis que se procuravam o melhor lugar para assistir à missa. Às 8h, todos os acessos à Avenida Atlântica estavam fechados para o tráfego de veículos.
Além do frio, o desafio para quem pernoitou na praia foi encontrar um banheiro livre. As filas de peregrinos em busca de um banheiro para usar estão imensas em frente a igrejas, padarias e lanchonetes de redes internacionais.
Durante a madrugada a espera por um banheiro químico chegou a até três horas, contam os peregrinos. "Só conseguimos usar um banheiro porque, depois de três horas de espera, decidimos pagar", disse a peregrina Ana Carolina Souza Norberto, de 19 anos, do interior do estado do Rio. "A gente acordou com muito mais vontade de fazer xixi do que de tomar café da manhã", desabafou Ludmila Paula Viegas, de 22 anos, Brasília.
Na manhã deste domingo, o mau cheiro ao redor dos banheiros químicos incomoda os peregrinos. Quem está na fila para usá-los tampa o nariz com blusas ou outros apetrechos. A Avenida Atlântica e o calçadão da praia de Copacabana amanheceram cobertos de folhetos. Garis chegaram cedo ao bairro para varrer o local.
Entre os peregrinos, a dona de casa Iraí Rodrigues, de 71 anos, acompanhou os jovens da comitiva de Porto Velho (RO) na qual ela veio ao Rio e passou a noite dormindo na calçada em Copacabana, durante a vigília da JMJ. Ela disse ter dormido mal, mas garantiu que valeu a pena. "O pior é o chão duro, porque o colchonete não resolve o problema. Mas eu faria de novo, só para poder ver o papa outra vez".
A primeira edição oficial da JMJ foi realizada em Roma, em 1986. Buenos Aires, na Argentina, terra do papa Francisco, recebeu, em 1987, a primeira jornada fora de Roma, como lembrou o pontífice em um dos seus discursos no Brasil. O evento do Rio de Janeiro é a 28ª edição da Jornada Mundial da Juventude e termina neste domingo.