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Durante cinco dias da semana, a última cidade no extremo-Norte do Brasil é um lugar isolado, com muita poeira e pouca gente nas ruas. De dezembro a junho, o período de chuvas transforma tudo num grande lamaçal, sem ao menos aplacar o calor que beira os 40 graus. Contudo, seja inverno ou verão, Oiapoque ganha vida nos fins de semana.

É então que, por trás dessa fachada de cidade interiorana, revela-se um lugar onde predomina um tipo de crime em que poucos ganham e muitos se calam. Este canto do Brasil é um dos maiores entrepostos exportadores de crianças, adolescentes e mulheres para fins de exploração sexual no Suriname e na Guiana Francesa. E dali para a Europa.

Levas de homens vindos da Guiana Francesa cruzam o Rio Oiapoque em barcos a motor. O que buscam num lugar sem nenhum atrativo turístico? Uns poucos buscam produtos têxteis ou os artigos pirateados que tanto notabilizam as fronteiras brasileiras. A maioria, no entanto, vem atrás de sexo. E ali, garotas de programa estão à disposição em boates, na praça, nos hotéis, nas ruas. No meio delas, crianças e adolescentes vindas de cidades do Maranhão, do Pará, do Amazonas e do Amapá. O mito do ouro, que já escasseou faz tempo, ainda atrai essa gente em busca de uma vida melhor, diz a conselheira tutelar Bernadete Menezes.

De tudo se faz para agradar aos guianenses, até mesmo relevar sua arrogância. E há uma razão prática para isso: o euro vale quase três vezes mais do que o real. Essa relação de dependência se agrava por causa do isolamento do restante do país. Na época das chuvas, os 13 mil habitantes de Oiapoque ficam isolados de Macapá, a capital do Amapá. Buracos e poeira tomam conta de dois terços dos 600 quilômetros da BR-156. No verão, gastam-se 10 horas de carro para ir de uma ponta a outra. No inverno, só caminhonetes com tração nas quatro rodas conseguem vencer o lamaçal que se estende por 400 quilômetros. Uma aventura que pode chegar a 24 horas.

Tudo nessa época dobra de preço, por isso o dinheiro dos vizinhos é sempre bem-vindo. Nem que para isso a cidade tenha de se curvar ao comércio do sexo de forma tão escancarada, seja de dia ou à noite. Todos sabem o porquê da presença da maioria dos franceses e guianenses. O assédio a eles ocorre a qualquer hora, em qualquer lugar. Pode ser logo na chegada ao Brasil, no porto onde atracam os barcos, ou durante o jantar, ou mesmo numa inocente caminhada pelas ruas.

Qualquer homem com biótipo diferente dos nativos está sujeito a cantadas, mas é logo rejeitado ao se revelar brasileiro. Elas querem os estrangeiros, pois eles vêm com dinheiro valorizado e um propósito já definido.

Poucos admitem abertamente, mas a cidade adaptou-se muito bem ao turismo sexual. Com 14.800 habitantes, Oiapoque tem 65 hotéis e pousadas, com mais de mil leitos. A proporção de vagas por habitante praticamente se equivale à da hotelaria do Rio de Janeiro, principal pólo turístico do Brasil. O curioso é que nesse extremo do país nunca se explorou o turismo, embora ali existam os parques nacionais do Cabo Orange e das Montanhas do Tumucumaque.

O mercado do sexo ainda é uma das principais atividades econômicas da cidade. "Essa situação faz com que os jovens vejam isso com naturalidade, e isso faz aflorar de forma precoce a sexualidade", diz o vereador Nilton Castilho Dias (PV).

Até há um ano, o ouro vindo de garimpos ilegais do outro lado do rio Oiapoque ajudava a alimentar o comércio do sexo no lado de cá da fronteira. Também eram tempos de muita violência. Os garimpeiros faziam ali o acerto de contas das broncas tidas nas currutelas (vilarejos ao redor dos garimpos).

Há um ano a Justiça determinou o fechamento dos bares à 1 hora da madrugada, mais ou menos na mesma época em que as Forças Armadas da França e a Polícia Federal brasileira bombardearam na Guiana uma dezena de locais de extração clandestina. O impacto foi imediato na economia de Oiapoque, mas ainda hoje o mito do ouro atrai mulheres de vários estados, observa Bernadete.

A maioria delas passa pela Boate do Júnior, lugar de alta rotatividade de mulheres na cidade. O dono da casa, Antônio Magno Júnior, é um velho conhecido de todos, mas inacessível aos braços da Justiça. Grande parte das meninas levadas para o Suriname ou à Guiana Francesa faz antes um estágio na boate dele. Elas chegam às dezenas, talvez centenas, todos os meses. Outras duas importantes boates da cidade – a Casa da Sílvia ("Chez Silvia", no letreiro em francês na entrada) e o Castelo American Drinks – não são páreo para o empresário do sexo mais bem-sucedido de Oiapoque.

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