Gaeco: investigação sobre tortura será apresentada na próxima semana
O procurador de Justiça e coordenador do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Leonir Batisti, afirmou que a conclusão das investigações sobre a suspeita de tortura dos quatro rapazes suspeitos de ter estuprado e matado a adolescente Tayná será apresentada na próxima semana.
Nove policiais civis, um policial militar, dois guardas municipais, um auxiliar de carceragem e um preso de confiança dos policiais são suspeitos da prática de tortura. Entre os policiais civis, o delegado Silvan Rodney Pereira, que estava no comando da delegacia do Alto Maracanã, também foi detido.
Com relação ao protesto dos familiares dos policiais presos por suspeita de tortura, o coordenador do Gaeco afirmou que a manifestação está dentro da lei. "O Gaeco tem profunda certeza do que está fazendo", explicou Batisti. O coordenador disse ainda que a não divulgação das informações a respeito da investigação facilita às pessoas "dar palpites" sobre o trabalho do Gaeco.
Um protesto reuniu cerca de 80 pessoas nesta quinta-feira (25) em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. Os manifestantes são familiares dos policiais presos, na última semana, sob suspeita de terem torturado os quatro acusados de assassinato de Tayná Adriane da Silva, de 14 anos. O ato durou cerca de duas horas e meia e terminou por volta das 18h desta quinta. O ato começou em torno das 15h30, quando os familiares se concentraram em frente à Delegacia do Alto Maracanã com faixas e cartazes. Eles saíram em direção ao Fórum em carreata, com cerca de doze veículos, por volta de 16h. Uma das participantes e organizadoras do protesto foi Simone Pereira, de 39 anos, esposa do delegado Silvan Pereira, preso no ultimo dia 19, em Laranjeiras do Sul, dois dias após a emissão do mandado de prisão contra si.
Simone se disse convicta da inocência do marido, e pede pressa no esclarecimento dos fatos. "A gente gostaria que o caso fosse solucionado o mais breve possível", afirma.
A família de Tayná também esteve presente no ato. Cleusa Cadoná da Silva, mãe da adolescente, afirmou que os quatro rapazes já haviam importunado a menina em ocasiões anteriores ao assassinato, e continua convicta que eles são os culpados. "Eu quero que se faça justiça, eles não podem ficar impunes", declarou Cleusa.
O advogado do delegado Silvan, Marlos Dalledone, acompanhou a manifestação. Ele afirmou que pretende entrar, em breve, com um pedido de habeas corpus para Silvan, mas ainda não estabeleceu a data. "Me solidarizo com a luta dos familiares para provar a inocência dos policiais", afirmou.
Na última segunda-feira, um Guarda Municipal de Araucária foi detido, elevando para 15 o número de suspeitos de tortura aos quatro acusados.
Investigações
Um mês depois do desaparecimento de Tayná, no dia 25 de junho, o caso segue sem solução. Os quatro suspeitos iniciais estão sob guarda do programa de proteção às testemunhas, em local mantido sob sigilo, e os quinze suspeitos de terem cometido tortura seguem detidos.
No último dia 20, a polícia ouviu um quinto funcionário do parque de diversões onde os acusados trabalhavam. O homem prestou depoimento e cedeu material genético para análise, mas foi liberado após falar à polícia.
Entenda o caso
A adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, desapareceu no dia 25 de junho quando voltava da casa de uma amiga, nas proximidades de um parque de diversões, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. O corpo da menina foi encontrado no dia 28 de junho. Três dos quatro suspeitos, presos no dia anterior, confessaram ter estuprado e matado Tayná. Um deles não teria participado diretamente do crime. No mesmo dia, o parque de diversões foi depredado e incendiado por moradores da região.
No dia 2 de julho, a perita do Instituto de Criminalística, Jussara Joeckel, afirmou que a adolescente poderia não ter sido violentada, contrariando a tese inicial das investigações. Mesmo com as contradições, a Polícia Civil finaliza o inquérito no dia 5 de julho com a conclusão de que os quatro suspeitos estupraram e estrangularam a adolescente. Porém, no dia 9 de julho o resultado de exame de DNA indicou que o sêmen encontrado na calcinha da garota não é compatível com o material genético de nenhum dos quatro acusados.
Este laudo gerou uma mudança no comando da investigação policial do crime, que já contava, desde a conclusão do inquérito pela delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, com a participação do Ministério Público. O laudo também motivou uma visita da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR aos suspeitos, que relatavam que foram torturados pela polícia para confessar os crimes.
No dia 12, o MP afirmou que os indícios coletados relacionam os suspeitos presos ao crime. Mas, no dia 14, o promotor Paulo de Lima se manifestou em sentido contrário, afirmando que as provas presentes no inquérito não sustentam uma denúncia e pedindo a soltura dos suspeitos pelo crime. Nesse meio tempo, no dia 13, o até então advogado de defesa dos suspeitos presos, Roberto Rolim de Moura Junior, foi destituído, sendo substituído por Andrey Salmazo Poubel.
No dia 15, pela manhã, o ex-defensor afirmou que foi hostilizado durante o depoimento de seus então clientes na Sesp. No mesmo dia, durante a tarde, os quatro presos foram soltos e levados a um pouso provisório pelo Gaeco. Também no dia 15, foi feito o pedido de prisão preventiva de 15 policiais denunciados por supostas torturas ocorridas nas apurações da morte da adolescente.
Na quinta-feira (18), os quatro suspeitos foram incluídos no programa de proteção a testemunhas. No mesmo dia, 12, dos 14 que tiveram prisão decretada no suposto caso de tortura, foram detidos (a maior parte deles se entregou espontaneamente. O delegado Silvan Pereira, considerado foragido, foi detido na sexta-feira (19).
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