Entenda o caso
O incêndio aconteceu na madrugada de domingo na boate Kiss, localizada no centro de Santa Maria (RS). O local é famoso por receber estudantes universitários. Ao todo, 235 pessoas morreram e outras 138 permanecem internadas.
O fogo teria começado na espuma de isolamento acústico da boate, após um integrante da banda Gurizada Fandangueira manipular um sinalizador. Faíscas atingiram o teto e iniciou as chamas. O guitarrista da banda afirmou que o extintor de incêndio não funcionou.Sobreviventes relataram que, antes de perceberem o incêndio, os seguranças teriam impedido os jovens de saírem sem pagar.
A maioria das vítimas morreu por asfixia durante a festa promovida por alunos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Muitas foram encontradas amontoadas nos banheiros, por onde tentaram fugir do fogo.
No local, havia apenas uma uma porta, que funcionava como a única passagem de entrada e saída da boate. Bombeiros e sobreviventes quebraram a fachada da casa noturna a marretadas para retirar as pessoas.
A boate Kiss, com capacidade para até 691 pessoas, recebeu entre 900 e 1.000 no dia do incêndio, de acordo com a polícia. A direção da boate Kiss divulgou nota afirmando que a casa estava dentro da normalidade e creditou o incêndio a uma "fatalidade".
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A Justiça do Rio Grande do Sul negou nesta quinta-feira (31) o pedido de liberdade a Elissandro Spohr, 28, o Kiko, um dos donos da boate Kiss. Ele está internado em Cruz Alta (RS) sob custódia policial, após o incêndio que matou 235 pessoas em Santa Maria (RS).
Jader Marques, advogado de Kiko, pediu a liberação de seu cliente ontem, mas o juiz plantonista Afif Jorge Simões Neto, na Comarca de Santa Maria, negou alegando que o decreto de prisão temporária "embasou-se em sólidos fundamentos" e que não caberia a ele rever a decisão de seu colega.
Outro elemento destacado pelo magistrado ao negar a liberdade do suspeito foi que a polícia aguarda a recuperação de Kiko para chamá-lo para um novo depoimento.
A prisão temporária de Kiko e outras três pessoas deve terminar amanhã. O delegado que coordena as investigações, Marcelo Arigony, pediu ontem a renovação das prisões por mais cinco dias e aguarda a decisão da Justiça.
O advogado do suspeito afirmou ontem que os proprietários revestiram por conta própria o teto do estabelecimento em cima do isolamento acústico. Segundo testemunhas, foi no teto que começou o incêndio, após um integrante da banda usar um sinalizador.Foto no Facebook O delegado Marcelo Mendes Arygoni, de Santa Maria (RS), postou no Facebook, na madrugada desta quinta-feira (31), uma foto em que aparecem labaredas em uma festa na boate Kiss, onde 235 pessoas morreram em decorrência de um incêndio na madrugada de domingo (27). "Recebi pelo msn do face. Tirem suas próprias conclusões!", escreveu Arygoni ao lado da foto.
Na foto, três labaredas estão perto do teto. Ao fundo, aparece a logomarca da Kiss. "Fui eu quem enviou a foto pra ele... Mas vejam na página da Fuel Entretenimento, aqui no Face, tem um Album (Festa FEO 2012 Fotos Oficiais) com imagens que aparecem "fogo"...Outubro/2012, ou seja isso ocorria a muito tempo, na Boate... Vejo aquilo tudo e sinto-me mal....", escreveu outra usuária do Facebook, Karla Moreira, na postagem.
Boate Kiss distribuiu 830 convites; capacidade era de 691
O advogado de defesa de Elissandro Spohr um dos donos da boate Kiss afirmou que 830 convites da festa Agromerados foram distribuídos para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) venderem uma semana antes do evento que terminou com 235 mortos. Jader Marques disse que mais de 200 convites foram devolvidos pelos universitários, mas admitiu que outras pessoas podiam pagar na porta e outras festas de aniversário ocorriam na casa, que suporta no máximo 691 pessoas, segundo o Corpo de Bombeiros.
"A casa tinha um fluxo dinâmico. Quando dava a lotação de 700 pessoas ninguém mais entrava. O dia mesmo da festa não estava aquela maravilha que o Kiko esperava. A casa estava meio vazia até", argumenta o advogado. A Polícia Civil ouviu uma funcionária da casa, porém, que diz ter separado mil comandas para serem vendidas na noite do dia 26.
"As pessoas que ouvimos até agora relatam que a casa estava lotada", afirma o delegado regional responsável pelo caso, Marcelo Arigony. "Já os funcionários dizem que a boate estava apenas cheia." Marques disse que a boate "tinha plenas condições de funcionamento e que o dono não sabia da apresentação com sinalizadores da banda. "Aquilo foi uma surpresa, para causar frisson", afirmou o advogado.
Fogos que causaram incêndio em boate eram irregulares
Um funcionário de uma loja de fogos de artifício de Santa Maria, ouvido pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, afirmou nesta quarta-feira (30) que os fogos utilizados pela banda Gurizada Fandangueira não eram adequados para ambientes fechados. Segundo ele, o produtor que comprou os artefatos foi alertado sobre o perigo.
"Várias vezes a gente dizia para ele: bah, tu estás usando na parte interna. Mas ele dizia: 'Mas eu sei como eu estou usando. Estou usando com segurança. Eu tenho curso'. Disso de ele ter curso ainda é pior. Se ele tem o curso, sabia que não podia usar".
O vendedor ainda ofereceu um tipo de fogos mais seguro, que poderia ser usado em locais fechados. O produtor, no entanto, não quis pagar, segundo o comerciante. Ainda foi dada a possibilidade de um desconto: "Este custa R$ 75 (indoor, para ambientes internos). Oferecemos um preço de R$ 50. Mais barato. Ele não quis, porque era 'muito caro'", disse o vendedor.
Os fogos de artifício usados são feitos de pólvora. Já o outro usa produtos químicos que produzem faíscas chamadas de fogo frio. A loja é regularizada, e os produtos podem ser comercializados livremente para adultos.
O vendedor confirmou que estava na loja no dia da compra, 25 de janeiro. "Ele levava só sputinik. Nesse dia, ele levou chuva de prata só para testar", afirmou.
Em Santa Maria, a Ordem dos Advogados do Brasil decidiu acompanhar as investigações da Polícia Civil sobre a tragédia da boate Kiss. Um perito estrangeiro se apresentou como voluntário para ajudar no acompanhamento.
Crea-RS faz vistoria na boate Kiss
Uma comissão do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul faz nesta quinta-feira uma vistoria na boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde 235 jovens morreram em decorrência de um incêndio.
A Comissão de Especialistas em Segurança contra Incêndio vai elaborar um parecer técnico sobre a edificação que possa apontar as causas do incêndio. O resultado do trabalho será divulgado na segunda-feira.
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