Em protesto, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Alexandre Bley, renunciou ao cargo na noite desta segunda-feira (23). Bley abriu mão do cargo para não ser obrigado a assinar os registros provisórios dos médicos formados no exterior que vão atuar no estado dentro do programa Mais Médicos. "Confesso que prefiro a vergonha da renúncia a ter que conviver com a vergonha de ter traído a minha consciência, pois quando um indivíduo abre mão de suas convicções, perde sua identidade e o significado de sua existência", escreveu o médico em sua carta de renúncia apresentada na noite de segunda-feira, durante reunião plenária do CRM-PR.
Segundo nota divulgada pelo CRM-PR, Bley teria afirmado que não se sentia à vontade para homologar a habilitação dos médicos estrangeiros pois não teria havido o devido cuidado e zelo para assegurar uma assistência de qualidade à população. Ele ainda destacou que o governo estaria pressionando os conselhos a conceder o registro aos profissionais.
Quem assume o lugar de Alexandre Bley na presidência do CRM-PR é o médico Maurício Marcondes Ribas. Hoje, Ribas afirmou que há inconsistências na documentação enviada pelo Ministério da Saúde para requisitar os registros dos profissionais estrangeiros. Mesmo assim, o CRM-PR vai conceder o documento, ressaltando que caberá ao Ministério da Saúde a responsabilidade pela autenticidade do mesmo.
Registros
Nesta terça-feira (24), o CRM-PR concedeu o registro de oito dos 30 médicos estrangeiros que aguardam liberação. A expectativa é que até segunda, mais 12 registros sejam liberados. Outros quatro registros foram solicitados e têm prazo até o começo de outubro para serem liberados, de acordo com a assessoria do conselho. O Ministério da Saúde ainda não requisitou o registro de seis profissionais. Oposição
Da Folhapress
Entidades médicas se opuseram radicalmente aos registros provisórios, que dispensam o teste de validação do diploma estrangeiro, o Revalida. Para os CRMs, isso iria precarizar o atendimento na saúde pública do país e não haveria certeza sobre a qualificação desses profissionais.
Os conselhos também afirmam que há inconsistências na documentação entregue pelos estrangeiros, como falta de autenticação, diplomas sem tradução juramentada e papéis trocados, além da ausência de indicação de tutores responsáveis por supervisionar o trabalho dos intercambistas.
Em sua carta de renúncia, Bley diz que o governo federal agiu de forma "unilateral" e "ao arrepio da lei" ao propor o Mais Médicos. Para ele, o problema da saúde no país está no subfinanciamento e na má gestão dos recursos, e não na falta de profissionais.
"O governo varre para baixo do tapete sua própria sujeira, tentando se eximir da responsabilidade que lhe cabe e colocando a culpa em toda a classe médica", afirmou o médico, na carta. "Criou-se um arcabouço legal para que o programa existisse, passando por cima de leis já consagradas."Bley integrava a diretoria do CRM-PR desde 2008, e presidia o órgão desde janeiro de 2012. Em outubro, encerraria sua gestão. É formado em Medicina pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e especialista em cirurgia vascular.
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