Em entrevista à RIC TV nesta terça-feira (9), o prefeito e candidato à reeleição Gustavo Fruet (PDT) culpou o governo do estado, do agora adversário Beto Richa (PSDB), pelo aumento de moradores de rua em Curitiba, o imbróglio do transporte coletivo da capital e os problemas de segurança pública.
O Livre.jor analisou as falas de Fruet e checou a veracidade de cada informação. Veja no que o prefeito acertou e no que ele errou durante a entrevista.
Moradores de rua
“Mais da metade dessas pessoas que estão em situação de rua não é de Curitiba, mas vêm para cá pela absoluta falta de política eficiente do governo do estado e de outras regiões do Paraná. Porque as pessoas vêm para a capital? Para buscar alternativas”.
É uma meia verdade.
A Pesquisa Municipal sobre a População em Situação de Rua, realizada em abril deste ano pela Fundação de Ação Social (FAS, órgão de prefeitura comandado pela mulher do prefeito, Márcia Fruet), entrevistou 1.113 pessoas. E aponta que o maior contingente proporcional (41,83%) é de nascidos em Curitiba; outros 20,35% são de fora do Paraná, e 0,38%, estrangeiros. Dos restantes 37,44%, a maioria (31,03%) veio do interior, e 6,41%, da região metropolitana de Curitiba.
Quer dizer: a maioria absoluta não nasceu em Curitiba, conforme disse o prefeito. Mas o porcentual de moradores de rua originários de outras cidades do Paraná é ainda menor que o de curitibanos.
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Além disso, a própria pesquisa reporta que 53,5% dos moradores de rua têm contatos com parentes que não vivem na rua. Desses, 55,5% disseram que os familiares que vivem em domicílios estão na capital.
Mais dados da pesquisa: os principais motivos que levaram pessoas a viver na rua são drogas (27%), álcool (24,7%) e conflitos familiares (22,3%). Motivos econômicos, como desemprego (9,9%) e perda de moradia (5,9%) aparecem em quarto e quinto lugares.
A quantidade de pessoas em situação de rua recolhidas em abrigos, segundo a pesquisa, era de 582 pessoas, em abril. Ou seja – 33,9% do total de moradores de rua estimado pela prefeitura, de 1.715 pessoas.
Transporte coletivo
“[O transporte urbano] é integrado e mantido exclusivamente pela cidade de Curitiba. O governo do estado tirou subsídio de Curitiba, mas manteve na região metropolitana. Hoje, tarifa, sem subsídio, é a mais baixa na RM, e a mais baixa em relação ao salário-mínimo.”
É verdade. Ainda que haja algumas nuances a considerar.
O sistema de transporte coletivo de Curitiba é integrado (ainda que a integração com a região metropolitana tenha diminuído, devido ao imbróglio entre prefeitura e governo do estado nos últimos anos). E seu custo é bancado integralmente pela arrecadação tarifária – a chamada tarifa técnica, ou seja, quanto custa transportar cada passageiro, é de R$ 3,66, valor inferior aos R$ 3,70 cobrados. Não há, portanto, necessidade de subsídio.
Fruet também tem razão em apontar o governo como culpado pelo desequilíbrio do sistema – ainda que o grande prejuízo causado por Beto Richa ao sistema tenha se dado quando o tucano era prefeito. Como já mostramos, no primeiro quadriênio de Richa no governo municipal, o INPC acumulou variação de 15,45%, mas a tarifa não passou dos R$ 1,90 que ele herdou do antecessor Cassio Taniguchi (DEM). No período, os salários-base de motoristas e cobradores foram reajustados em 24,19% e 24,64%, respectivamente.
Com temor da urna, prefeitos seguram reajuste de tarifa perto das eleições
Leia a matéria completaSegundo documento enviado pela Urbs ao Livre.jor, “o equilíbrio econômico do sistema começou a ser quebrado em 2004/2005, com a redução do valor da passagem pelo usuário, sem a devida redução de custo operacional”.
Fruet também tem razão quando diz que a tarifa é mais baixa em Curitiba que na região metropolitana, onde o sistema passou a ser administrado pela Comec, do governo do estado e que Richa manteve para outros municípios o subsídio que negou à capital (como mostra esse documento firmado pela Comec com a prefeitura de Araucária:
Por fim, Fruet tem razão quando diz que, em sua gestão, comprou-se mais passagens por salário-mínimo que em todas as anteriores (fizemos o cálculo desde o Real). Mas as quase 238 passagens que um se compram com R$ 880 reais, atualmente, são menos que as 254 por que se trocaram os R$ 724 de um salário-mínimo em 2014 (também na gestão do pedetista).
E, no último ano da prefeitura de Luciano Ducci (PSB), um salário-mínimo dava para comprar quase 239 passagens de ônibus – uma a mais que atualmente, portanto.
Guarda Municipal
“Omissão, incompetência ou má-gestão fazem cada vez mais a GM ser chamada para cumprir o papel da segurança pública”
É verdade, mas...
A base de dados que lista as ocorrências atendidas pela Guarda Municipal de Curitiba (ela é pública), indica que a corporação realizou 177.083 atendimentos desde o início de 2009 – quando as estatísticas começaram a ser compiladas.
Do total, 101.391 atendimentos (57,3% do total) foram realizados fora de equipamentos urbanos. Ou seja, na rua. Em 1986, quando a Guarda foi criada, o principal objetivo dela era evitar as depredações ao patrimônio público municipal.
Ou seja – Fruet tem razão quando diz que os agentes da GM, cada vez mais, atuam em chamadas externas (um papel que é da Polícia Militar).
Mas há um porém: os atendimentos externos da GM se mantém mais ou menos estáveis desde 2009, e já foram até mesmo ligeiramente superiores aos registrados em 2016, primeiro ano da série histórica em que ficam abaixo dos 50% (eles chegaram a 64% em 2010, quando Beto Richa era prefeito).
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