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As forças policiais da França tentam fechar o cerco nessa quinta-feira (8) aos irmãos Cherif e Said Kouachi, de 32 e 34 anos - suspeitos de matar 12 pessoas nessa quarta (7) em um atentado contra o jornal semanal de Paris 'Charlie Hebdo' em retaliação as piadas sobre islamismo feitas pelo periódico. Os jornais franceses noticiam que há um forte aparato policial no departamento de Aisne ao Nordeste de Paris. As buscas foram intensificadas em dois vilarejos dessa região: Corcy e Longpont, mas não há informações concretas de os suspeitos ainda estejam nessas localidades.
Os dois militantes islâmicos teriam sido visto durante o dia em um carro perto de um posto de combustíveis na cidade de Villers-Cotterêts. Inicialmente, foi noticiado que os irmãos abandonaram o veículo no posto, mas posteriormente, os relatos não confirmavam a informação. Tiros foram disparados contra o posto, de acordo com outros relatos na imprensa francesa. A placa no carro supostamente usado pelos dois é falsa e helicópteros estão sobrevoando a área de acordo com Le Figaro. O Le Monde divulgou que um homem teria visto os suspeitos usando metralhadoras "Kalashnikovs e lançadores de foguetes."
Ao longo do dia, também houve uma grande movimentação policial em Longpont, vilarejo ao lado de Corcy. Há uma floresta na localidade e uma das possibilidades cogitadas pelos jornais franceses é que a caçada aos suspeitos ocorra nas proximidades desse ponto. Não há informações se os irmãos fogem à pé ou utilizam algum tipo de meio para se locomover. Segundo a emissora pública "France Info", vários helicópteros da Gendarmaria, do Exército e de Defesa Civil sobrevoaram a zona para tentar seguir a pista.
Na madrugada dessa quinta, um homem de 18 anos de idade, Hamyd Mourad, entregou-se à polícia em Charleville-Mézières, cerca de 230 quilômetros a nordeste de Paris, perto da fronteira com a Bélgica. Ele seria o terceiro envolvido no ataque ao semanário.
A polícia divulgou fotos dos dois cidadãos franceses foragidos, dizendo que são "armados e perigosos": os irmãos Cherif e Said Kouachi, já estavam antes sob vigilância dos serviços de segurança antes do atentado.
Mais de 88 mil agentes das forças de segurança pública da França estão diretamente envolvidos nas ações de vigilância, prevenção e proteção dos cidadãos, instalações e do território francês. Parte desse efetivo tenta capturar os dois suspeitos. Uma verdadeira operação de guerra foi acionada para tentar evitar novos ataques. Nove pessoas já foram presas.
Segundo o Ministério do Interior, há 88.150 agentes estrategicamente espalhados: 50 mil policiais militares, 32 mil gendarmes (soldados de uma corporação especial encarregada de manter a ordem pública), 5 mil integrantes de forças móveis e 1.150 militares. Durante reunião do gabinete de crise interministerial, nessa quinta, em Paris, o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, agradeceu o empenho dos homens e mulheres mobilizados e lamentou que uma policial tenha sido morta durante tiroteio no sul de Paris, em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Charlie Hebdo
O semanário Charlie Hebdo é bem conhecido por satirizar o islamismo e outras religiões, bem como figuras políticas. Militantes islâmicos vinham repetidamente ameaçando França com ataques por causa de suas ações militares em redutos de radicais islamitas no Oriente Médio e na África, o que levou o governo a reforçar as suas leis antiterrorismo no ano passado.
O primeiro-ministro Manuel Valls disse que a França enfrenta uma ameaça terrorista "sem precedentes" e confirmou que os dois irmãos eram conhecidos dos serviços de segurança. Mas ele acrescentou que ainda é muito cedo para dizer se as autoridades subestimaram a ameaça que eles representavam. "Por eles serem conhecidos, eram seguidos", disse Valls à rádio RTL, acrescentando: "Temos de pensar nas vítimas. Hoje é um dia de luto."
No total, sete pessoas foram presas desde o ataque, disse ele. Fontes policiais disseram que os detidos são em sua maioria conhecidos dos dois principais suspeitos. Uma fonte disse que um dos irmãos tinha sido identificado pelo documento de identidade, deixado no carro de fuga.
Na quarta-feira, um homem de 18 anos de idade, Hamyd Mourad, entregou-se à polícia em Charleville-Mézières, cerca de 230 quilômetros a nordeste de Paris, perto da fronteira com a Bélgica, enquanto a polícia antiterrorismo realizava buscas em Paris e nas cidades de Reims e Estrasburgo, no nordeste da França. A imprensa francesa citou amigos dizendo que ele estava na escola no momento do ataque.
Cherif Kouachi ficou 18 meses na prisão sob a acusação de associação criminosa relacionada com uma ação terrorista em 2005. Ele fazia parte de uma célula islâmica que alistava cidadãos franceses em uma mesquita no leste de Paris para que fossem ao Iraque combater os norte-americanos. Ele foi preso antes de partir para o Iraque.
Sangue frio
Imagens de uma câmera durante o ataque mostram um dos agressores diante da redação do Charlie Hebdo gritando "Allahu Akbar!" (Deus é grande) enquanto tiros eram disparados.
Outro caminhou calmamente até um policial ferido deitado na rua e atirou nele com um fuzil de assalto. Os dois homens, em seguida, entraram em um carro preto e fugiram.Em outro vídeos, os homens são ouvidos gritando em francês: "Matamos Charlie Hebdo. Vingamos o profeta Maomé."
O Charlie Hebdo causou polêmica no passado com cartuns satíricos de líderes políticos e religiosos de todos os credos e também publicou numerosas caricaturas ridicularizando o profeta Maomé. Jihadistas ameaçaram o semanário na Internet, dizendo que pagaria pela zombaria.
O último tuíte da publicação zombou de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do grupo Estado Islâmico, que tomou o controle de grandes áreas do Iraque e na Síria e fez um chamado para ataques de "lobos solitários" em solo francês.
Por toda a França dezenas de milhares de pessoas participaram de manifestações improvisadas e vigílias na quarta-feira à noite, em memória das vítimas - entre as quais alguns dos mais proeminentes e amados cartunistas políticos da França - e em apoio à liberdade de expressão.
O ataque
Os terroristas chegaram pouco depois das 11 horas locais (7 horas em Brasília) à sede do Charlie Hebdo. Eles estavam mascarados e com fuzis AK-47. Chamaram pelo nome os chargistas e colunistas do jornal e dispararam contra eles.
Ao deixarem o prédio, um deles executou um policial na rua. Durante a fuga, teriam gritado "Alá é grande" e "vingamos o profeta", o que é considerado uma alusão à publicação pela revista de caricaturas de Maomé.
Eles fugiram em um Citroën C1 de cor preta, que abandonaram em seguida. O policial Rocco Contento descreveu o interior do prédio como uma "carnificina" após o ataque.
Testemunhas disseram ao canal de notícias francês iTELE terem visto o incidente a partir de um prédio próximo no coração da capital francesa. "Cerca de meia hora atrás dois homens com capuz preto entraram no prédio com (fuzis) Kalashnikovs", disse Benoit Bringer à emissora. "Poucos minutos depois, nós ouvimos vários tiros", disse, acrescentando que os homens depois foram vistos fugindo do prédio.
Vítimas
Cinco chargistas foram mortos: o diretor do Charlie Hebdo, Stéphane Charbonnier (conhecido com Charb); Jean Cabu; Bernard Verlhac (conhecido como Tignous); Phillippe Honoré; e George Wolinski (um dos mais conceituados quadrinistas do mundo).
As outras vítimas foram o colunista e economista do Banco da França Bernard Maris; o revisor do jornal Mustapha Ourad; a psicanalista e colunista Elsa Cayat; um funcionário de outra empresa, que trabalhava no prédio, Frédéric Boisseau; Michel Renaud, que visitava o Charlie Hebdo; e dois policiais, Franck Brinsolaro (morto dentro do prédio) e Ahmed Merabet, executado na rua, quando os atiradores fugiam.
Ameaças
O Charlie Hebdo foi alvo de várias ameaças por causa da publicação de caricaturas do profeta Maomé e de outros desenhos controversos.
Desde 2011, quando a sede da revista foi alvo de ataque à bomba horas antes de uma edição com uma charge do profeta Maomé ir às bancas, Stéphane Charbonnier andava com escolta de um policial.