Mais de 1,5 mil crianças são vítimas de abuso por ano no PR
Estatísticas oficiais mostram que abusos sexuais contra menores de idade são muito mais comuns do que qualquer noticiário possa fazer supor. Só em Curitiba, o número de agressões registradas chega a mais de 500 por ano. É o equivalente a uma criança vítima de abuso a cada 16 horas. Levando em conta todo o estado do Paraná, o intervalo cai para apenas seis horas. No total, todos os anos, cerca de 1,5 mil crianças sofrem com este tipo de agressão no Paraná. Os dados da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação de Risco em Curitiba e do Sistema de Informação para Infância e Adolescência (Sipia).
A polícia trabalha com a hipótese de que o assassino da menina Rachel Genofre, 9 anos, encontrada morta na rodoviária de Curitiba, conheceu a estudante na Biblioteca Pública do Paraná, localizada na região central de Curitiba. Na manhã desta quinta-feira (13), uma equipe do Serviço de Investigação de Criança Desaparecida (Sicride) fez uma vistoria na biblioteca, o que causou tumulto e gerou o rumor de que um suspeito estaria lá, mas nada foi confirmado oficialmente pela polícia.
Uma fonte que participa das investigações afirma que Rachel freqüentava a biblioteca constantemente sem supervisão, mas o prédio não tem câmeras de vigilância, o que pode dificultar as investigações. Em média, 3.500 pessoas entram diariamente na instituição, que tem aproximadamente 6.500 metros quadrados de área construída.
Segundo a polícia, a vistoria na biblioteca tem como o objetivo refazer o cotidiano da criança em busca de indícios que apontem para o culpado pelo assassinato. "Estamos conversando com muitas pessoas e refazendo o dia-a-dia da Rachel em busca de indícios que apontem para a autoria do crime", explicou o delegado do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), Miguel Stadler à Agência Estadual de Notícias.
As investigações sobre o caso Rachel na biblioteca estão sendo mantidas em segredo. O próprio pai da criança foi impedido de ter acesso a uma redação, que está em poder da biblioteca, de autoria da filha. A biblioteca alegou que aguardaria instruções jurídicas, pois a mãe poderia ter o direito sobre a folha com a redação de Rachel. No dia em que Rachel desapareceu, 3 de novembro, ela ganhou o primeiro prêmio do Concurso Infanto-Juvenil de Redação, promovido pela Seção Infantil da Biblioteca Pública do Paraná. Em 2007, ela ganhou o terceiro lugar no mesmo concurso.
A ouvidoria da Biblioteca Pública diz ter recebido ordens expressas da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) para não se manifestar sobre o caso. O órgão não quis responder se Rachel tinha ficha na instituição e a freqüência da retirada de livros. Nenhum membro do Sicride quis esclarecer o que foi investigado na biblioteca.
Um funcionário que trabalha na biblioteca, e que não será identificado porque foi proibido de falar com a imprensa, afirmou que a menina era uma freqüentadora da instituição, quase sempre desacompanhada de adultos. O funcionário reconhece que as câmeras ajudariam a tirar dúvidas sobre a hipótese de Rachel ter conhecido seu algoz lá.
Há uma requisição para a instalação de um circuito interno de gravação protocolada no Governo do Paraná (número 07.112.375-8), com data de 9 de setembro de 2008 portanto antes do assassinato de Rachel , mas nada foi feito. O protocolo já tramitou por pelo menos dez instituições do Poder Executivo.
Outras vistorias
De acordo a assessoria da Sesp, policiais também vistoriaram o Instituto de Educação, colégio onde Rachel cursava a 4ª série, e o comércio perto da casa onde morava. Não há descrição de mais detalhes.
No mesmo texto, a secretaria esclarece que a Delegacia de Homicídios ainda preside a força-tarefa montada com outras quatro delegacias especializadas Sicride, Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc) e Cope. Rumores davam conta de que o delegado Stadler seria o novo comandante da operação, mas o mesmo nega essa informação.
Crime
Rachel estava desaparecida desde as 17h30 do dia 3 de novembro, quando saiu do Instituto de Educação, onde estudava. A menina ia e voltava sozinha do bairro Guaíra, onde morava, até a escola, de ônibus, todos os dias. O desaparecimento já estava sendo investigado desde essa data pelo Sicride.
A mala foi encontrada embaixo de uma das escadas do setor de transporte estadual, por uma família indígena, que estava morando no local havia duas semanas. O corpo estava inteiro, ainda com o uniforme do colégio e apresentava sinais de estrangulamento. Os médicos do IML confirmaram que a menina sofreu violência sexual.
O corpo de Rachel foi enterrado por volta das 10h30 do dia 6 deste mês no Cemitério do Santa Cândida. O sepultamento aconteceu debaixo de muita chuva, acompanhado por mais de 100 pessoas, entre amigos, colegas de escola e familiares.
Os suspeitos
A polícia ouviu o depoimento de um suspeito do assassinato da menina Rachel na tarde da sexta-feira passada (7). O homem, no entanto, não ficou preso e depois de ouvido foi liberado. Mesmo assim, os policiais recolheram amostras para exame de DNA, para comparar com o material encontrado junto com o corpo da menina.
O ex-presidiário Jorge Luiz Pedroso Cunha, de 52 anos, foi preso no domingo (9) em Itajaí, Santa Catarina. Cunha chegou a ser considerado o principal suspeito do crime.
Desenhista, Jorge Cunha cumpriu pena por 18 anos de reclusão. Em 2005, o Conselho Penitenciário do Paraná aprovou, por unanimidade, um pedido de comutação de pena e ele saiu da prisão no ano seguinte. Em 2007, Cunha teria cometido atentado violento ao pudor em uma criança do litoral paranaense. A Justiça expediu mandado de prisão e, por isso, Cunha permanece preso, mesmo que esteja isento do assassinato de Rachel, conforme apontaram exames de DNA.
Na segunda-feira passada (10), cinco delegacias especializadas de Curitiba montaram uma força-tarefa para solucionar o caso.
Serviço
Quem tiver informações que possam ajudar nas investigações sobre o assassinato de Rachel pode entrar em contato com a Delegacia de Homicídios pelos telefones 3363-0121 e 3363-1518. A identidade do informante será mantida em sigilo.
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