O controle de passageiros na Rodoferroviária de Curitiba é precário, conforme os próprios órgãos que fiscalizam o setor reconhecem. Qualquer um pode embarcar em uma viagem interestadual com um documento falso. Se a viagem for para outra cidade do Paraná, em alguns casos nem é preciso tirar xerox colorido do RG, pois as empresas não são obrigadas a exigir documentação para viagens de curta distância. Dados como estes poderiam ter auxiliado a polícia nas investigações da morte da menina Rachel Genofre.
Policiais que investigam o caso da menina encontrada morta dentro de uma mala na Rodoferroviária chegaram a solicitar às viações o registro de todos aqueles que embarcaram no dia em que o corpo da garota foi encontrado. Mas depararam-se com um calhamaço com nomes e documentos, mas sem a certeza da identidade. Uma funcionária da própria Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) reconhece que é muito fácil uma pessoa embarcar com um documento falso para viagens de outros estados.
A estudante Vanessa Novello, que viaja constantemente ao interior de Santa Catarina, conta que os funcionários das empresas têm pouco rigor na verificação dos documentos. "Às vezes, nem pedem nada", diz Vanessa, que embarcou nesta quarta-feira (12) em um ônibus da viação Reunidas. A Reunidas, assim como a maioria das empresas, diz seguir a legislação.
Se a viagem for estadual, os critérios são ainda menores. Segundo um passageiro que viaja constantemente para o interior paranaense e, não quis se identificar, em viagens estaduais as empresas paranaenses não pedem identificação. Entre as empresas que operam na Rodoferroviária de Curitiba, apenas a Graciosa admitiu não pedir a apresentação de documentos. Segundo o gerente José Olegário, a requisição de documentos é opcional em viagens até 150 quilômetros. "Em época de férias, pedir os documentos de cada passageiro poderia atrasar a viagem até a praia. Daria uma fila imensa", diz Olegário.
Outros casos
Segundo a ANTT, são constantes os pedidos de pais pelas fichas de controle de embarque. Em casos de crianças desaparecidas ou que fugiram de casa, eles pedem para averiguar se o filho viajou para algum lugar. Porém, as solicitações esbarram no baixo nível tecnológico das empresas. Como tudo é feito na base do papel e caneta, as empresas só buscam nomes por meio de medida judicial.
A resolução que disciplina a sistemática de identificação dos passageiros da ANTT obriga que os passageiros apresentem uma ficha com o nome, número do bilhete, número da poltrona, documento de identidade e órgão expedidor. Além disso, eles devem apresentar um documento de identidade. No entanto, a resolução não pede que as empresas tabulem os dados ou digitalizem as informações.
O Departamento de Estradas e Rodagens, órgão responsável pela fiscalização das empresas que operam nos limites do Paraná, afirma que o controle de menores de 12 anos é ainda mais complicado, pois geralmente os documentos apresentados não têm foto.
Crime
Rachel estava desaparecida desde as 17h30 do dia 3 de novembro, quando saiu do Instituto de Educação, onde estudava. A menina ia e voltava sozinha da Vila Guaíra, onde morava, até a escola, de ônibus, todos os dias. O desaparecimento já estava sendo investigado desde essa data pelo Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride).
O corpo da menina foi encontrado dentro de uma mala embaixo de uma das escadas do setor de transporte estadual, por uma família indígena, que estava morando no local havia duas semanas. O corpo estava inteiro, ainda com o uniforme do colégio e apresentava sinais de estrangulamento. Os médicos do IML confirmaram que a menina sofreu violência sexual.
O crime chocou família, amigos, e pais colegas da menina. Rachel cursava a 4.ª série no Instituto de Educação. Em outubro de 2007, quando estava na 3.ª série, ela ganhou o terceiro lugar no 13.º Concurso Infanto-Juvenil de Redação, promovido pela Seção Infantil da Biblioteca Pública do Paraná. Este ano recebeu o primeiro prêmio no mesmo concurso.
O corpo de Rachel foi enterrado por volta das 10h30 do dia 6 de novembro no Cemitério do Santa Cândida. O sepultamento aconteceu debaixo de muita chuva, acompanhado por mais de 100 pessoas, entre amigos, colegas de escola e familiares.
Os suspeitos
A polícia ouviu o depoimento de um suspeito do assassinato da menina Rachel na tarde da sexta-feira passada (7). O homem, no entanto, não ficou preso e depois de ouvido foi liberado. Mesmo assim, os policiais recolheram amostras para exame de DNA, para comparar com o material encontrado junto com o corpo da menina.
O ex-presidiário Jorge Luiz Pedroso Cunha, de 52 anos, foi preso no domingo (9) em Itajaí, Santa Catarina. Cunha chegou a ser considerado o principal suspeito do crime.
Desenhista, Jorge Cunha cumpriu pena por 18 anos de reclusão. Em 2005, o Conselho Penitenciário do Paraná aprovou, por unanimidade, um pedido de comutação de pena e ele saiu da prisão no ano seguinte. Em 2007, Cunha teria cometido atentado violento ao pudor em uma criança do litoral paranaense. A Justiça expediu mandado de prisão e, por isso, Cunha permanece preso, mesmo que esteja isento do assassinato de Rachel.
Serviço
Quem tiver informações que possam ajudar nas investigações sobre o assassinato de Rachel pode entrar em contato com a Delegacia de Homicídios pelos telefones 3363-0121 e 3363-1518. A identidade do informante será mantida em sigilo.
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