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Reprodução do pedido de amostra de sangue do deputado recebida pelo Hospital Evangélico | Reprodução
Reprodução do pedido de amostra de sangue do deputado recebida pelo Hospital Evangélico| Foto: Reprodução

Mãe de uma das vítimas assinou nesta manhã pedido de cassação do mandato de Fernando Ribas Carli Filho

Opinião da Gazeta: Isenção e transparência

A colisão envolvendo o carro do deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, 26 anos, e um segundo veículo, no qual perderam a vida Gilmar Rafael Souza Yared e Murilo de Almeida, respectivamente 26 e 20 anos, vem ensejando uma reação muito grande por parte da opinião pública paranaense. Em meio à comoção e estupefação pela violência do acidente que acabou ceifando a vida de dois jovens e ferindo gravemente outro, acaba se sobressaindo o sentimento por uma apuração isenta e equilibrada do caso. Este, aliás, deve ser o papel dos organismos policiais encarregados das diligências, de modo a dar uma satisfação não só às famílias das vítimas, mas à própria sociedade. Sem a intenção de emitir juízo de valor a respeito do trágico episódio, é forçoso ressaltar que o fato de estar envolvido um parlamentar no exercício do mandato não pode ser motivo para um tratamento diferenciado nos critérios da investigação e apuração. Uma ação transparente, ágil e sobretudo ética é o que se espera.

O advogado da família de Gilmar Yared, um dos dois jovens que morreram no acidente ocorrido na madrugada de quinta-feira (7) envolvendo o deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho (PSB), protocolou no início da tarde desta quarta-feira (13) um ofício destinado ao presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Nelson Justus (DEM), no qual pede a abertura de um processo de perda de mandato de Carli Filho por falta de decoro parlamentar. No momento do acidente, o deputado dirigia com a habilitação suspensa e 30 multas, infrações ao Código de Trânsito Brasileiro e à lei federal.

Conforme apurou o telejornal Paraná TV 1ª edição, da RPC TV, o advogado Elias Mattar Assad, que representa a família de Yared, também encaminhará ao desembargador Miguel Pessoa Filho, que preside as investigações do caso no Tribunal de Justiça (TJ), um pedido de indiciamento de Carli Filho por duplo homicídio com dolo eventual (quando o acusado assume o risco do crime). No relatório emitido pelos bombeiros do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) que fizeram o atendimento às vítimas depois do acidente, há a informação de que o condutor do Passat alemão apresentava "hálito etílico". A informação já havia sido divulgada por uma das testemunhas à Gazeta do Povo, que acrescentou que o deputado dirigia em alta velocidade.

O documento, obtido pelo Paraná TV, cita a vítima apenas como "condutor do Passat Alemão", já que o deputado não portava documentos e, até então, não havia sido identificado. Informada sobre o documento, Cristiane Yared, mãe de Gilmar Yared, diz que já esperava por esse tipo de informação. "Eu não recebi com surpresa. Nós entendemos que nenhuma pessoa em sã consciência poderia estar dirigindo na velocidade que ele estava. Alguma coisa tinha que estar acontecendo", disse, em entrevista ao Paraná TV.

Restaurante

O acidente aconteceu por volta da 1 hora de quinta-feira (7). No site oficial do deputado, uma nota, datada de segunda-feira (11), informa que Carli Filho passou boa parte da noite de quarta-feira (6), preparando-se para um discurso que faria na manhã seguinte. Segundo a polícia, entretanto, momentos antes da ocorrência, o parlamentar saiu de um restaurante, conforme divulgado pela Agência Estadual de Notícias (AEN). De acordo com a AEN, o dono do estabelecimento e os garçons que serviram o deputado já foram ouvidos pela polícia.

Testemunhas disseram à Rádio CBN Curitiba, que, na noite do acidente, viram Carli Filho em um restaurante no Bigorrilho, acompanhado de sete pessoas, divididas em duas mesas. Segundo a rádio, na saída do estabelecimento, ele teria se recusado a ir para casa de carona e chegado a discutir com os familiares, negando que estivesse sem condições de dirigir o carro.

Uma das testemunhas afirmou ter visto o deputado visivelmente embriagado. O parlamentar teria caído na calçada, em frente ao estacionamento onde estava o carro Passat que se envolveu no acidente. Carli Filho ainda teria furado uma preferencial, ignorado um sinal vermelho e fugido dos amigos que foram atrás dele para acalmá-lo, segundo outra testemunha ouvida pela CBN. Nenhuma das quatro pessoas ouvidas pela reportagem da rádio foi chamada pela polícia para depor até o momento.

Exame de dosagem alcoólica Na sexta-feira (8), um dia após o acidente, o delegado titular da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), Armando Braga de Morais, afirmou à reportagem do telejornal Paraná TV 1ª edição, da RPC TV, que o deputado Carli Filho não passaria por exame de dosagem alcoólica.

"É praxe do Instituto Médico-Legal (IML) realizar a dosagem alcoólica sempre que há óbito no local", explicou. "No caso do deputado, não foi feita a dosagem alcoólica porque ele foi hospitalizado e recebeu estabilização através de procedimentos de medicação. Sempre que qualquer pessoa recebe qualquer medicação quando dá entrada na casa hospitalar, o exame de dosagem alcoólica fica inviabilizado, prejudicado, mascarado", explicou o delegado na ocasião. Na terça-feira (12), entretanto, a polícia voltou atrás e anunciou que fez o pedido o exame.

O Hospital Evangélico de Curitiba informou, por meio de nota, que recebeu somente nesta quarta-feira (13), seis dias após o acidente, o pedido oficial da Dedetran de amostra de sangue do deputado Carli Filho. O ofício é assinado pelo delegado Armando Braga de Morais Neto e tem a data de 12 de maio. Uma cópia foi enviada para a redação da Gazeta do Povo, na qual consta a data de envio como terça-feira.

No texto, o hospital afirma que o procedimento convencional em casos de acidentes de trânsito é que exames de dosagem alcoólica sejam feitos pelo Instituto Médico-Legal (IML), "a quem compete essa responsabilidade". A instituição informou ainda que está verificando a disponibilidade de sangue do paciente no sistema de análises clínicas que possam possibilitar o exame.

O psiquiatra Luiz Fernando Carazzai, especialista em álcool e drogas do Hospital de Clínicas, disse na terça-feira à Gazeta do Povo que é possível detectar vestígios de álcool na corrente sanguínea até 24 horas após a ingestão da bebida. Ele ainda afirmou que os medicamentos não mascaram o consumo de álcool.

Confira a nota do Hospital Evangélico na íntegra:

"O Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (HUEC) informa que recebeu somente nesta quarta-feira, dia 13/05, ofício da Delegacia de Delitos de Trânsito, assinado pelo delegado Armando Braga de Morais Neto, solicitando amostra de sangue do deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, internado na madrugada no último dia 07/05, vítima de acidente de trânsito. O HUEC esclarece que o pedido, datado de 12/05, foi a primeira comunicação oficial feita pela Polícia Civil do Paraná neste sentido desde a ocorrência e a internação do paciente.

O Hospital considera importante destacar ainda que atende diariamente pessoas acidentadas, e que o procedimento convencional nesse tipo de ocorrência é o de que os exames de dosagem alcoólica sejam feitos pelo Instituto Médico Legal, órgão da Polícia Civil do Estado, a quem compete essa responsabilidade.

O Hospital Evangélico está rastreando no sistema de análises clínicas para verificar se há sangue do paciente. Se disponível encaminhará de imediato para análise conforme pedido da Delegacia de Delitos de Trânsito."

Acidente

A colisão aconteceu na esquina das ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski na madrugada de quinta-feira (7). O deputado dirigia um Volkswagen Passat de cor preta, que acabou batendo contra um Honda Fit de cor prata. Após a colisão, os carros foram parar na Rua Barbara Cvintal, uma via local paralela à Monsenhor Ivo Zanlorenzi. Pedaços de lataria, vidros e ferros ficaram espalhados por cerca de cem metros.

Os dois ocupantes do Honda, Gilmar Rafael Souza Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos, morreram no local. Eles voltavam do Park Shopping Barigui, onde Almeida trabalhava. Yared estudava psicologia e planejava viajar para Austrália.

Embora a ocorrência tenha acontecido durante a madrugada, a família só ficou sabendo que o deputado tinha se envolvido no acidente por volta das 10h de sexta-feira. A funcionária do apartamento de Fernando Ribas Carli, localizado a poucos metros do local do acidente, viu as imagens na televisão dos dois veículos pela manhã e reconheceu o deputado pelo cabelo e a roupa. Imediatamente avisou a família, que iniciou a busca em hospitais.

O automóvel dirigido por Carli Filho não era usado por ele diariamente. Ele tem uma Land Rover, que estava no conserto. O Passat era da transportadora do pai.

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