Policiais acusados de tortura aos suspeitos de matarem Tayná seguem presos. Caso continua sem respostas.| Foto: Eloá Cruz

A Justiça de Colombo, na região metropolitana de Curitiba, negou na última sexta-feira (27) que a defesa dos policiais acusados de tortura no caso Tayná tenha acesso ao inquérito do caso. Na mesma decisão, contudo, o judiciário permitiu que os agentes só precisam ceder material genético para as investigações sobre a morte da menina se quiserem. A intimação para que eles fornecessem DNA, para ser comparado com o sêmen encontrado nas roupas da adolescente durante a perícia, havia sido feita pelo Ministério Público (MP) há mais de vinte dias.

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De acordo com o advogado Cláudio Dalledone, que defende nove policiais, o motivo para ambas as decisões da Justiça é o mesmo: os policiais não são investigados formalmente. "Eles não são investigados e não são suspeitos, por isso a juíza nega que tenhamos acesso ao inquérito, mas não nos obriga a ceder material genético", explica.

Apesar de poderem recusar, todos os policiais vão fornecer o DNA, segundo Dalledone. "Todos os meus clientes fazem questão de ceder o material", afirma. Ainda não está estipulado, contudo, quando eles devem fazer a entrega, já que a análise do material será acompanhada por um perito particular.

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Tayná desapareceu no dia 25 de junho e foi encontrada morta três dias depois, em um terreno baldio próximo a um parque de diversões. Antes que o corpo fosse localizado, a delegacia do Alto Maracanã, então chefiada pelo delegado Silvan Pereira, já havia anunciado os quatro suspeitos e garantido que eles confessaram ter estuprado e matado a menina.

Alguns dias depois, no entanto, a perícia concluiu que o sêmen encontrado nas roupas de Tayná não pertencia a nenhum dos quatro rapazes. Em seguida, o MP passou a investigar uma suposta prática de tortura aos suspeitos iniciais, para que confessassem o crime, que teria sido cometida por policiais que atuaram no caso. Por causa destas acusações de tortura, Silvan e os demais policiais foram presos. Os quatro suspeitos iniciais estão sob guarda de um programa de proteção a testemunhas do governo federal.

Investigados pelo Gaeco, eles continuam presos em Curitiba, mas nada foi provado até o momento. No último dia 25, familiares dos policiais presos e da própria Tayná fizeram um ato no centro de Curitiba, em protesto às decisões do MP.

O inquérito do assassinato está sob responsabilidade do delegado Cristiano Quintas, da Delegacia de Homicídios (DH). O limite para fechamento das investigações é próximo dia 10, mas o prazo pode ser prorrogado novamente se a polícia achar necessário.

Investigação

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Tayná desapareceu no dia 25 de junho e foi encontrada morta três dias depois, em Colombo. No dia 2 de julho, uma semana após o desaparecimento da jovem, os quatro suspeitos iniciais já estavam presos e já haviam confessado o crime. Nesta data, contudo, a perita Jussara Joeckel, do IML, afirmou pela primeira vez que Tayná poderia não ter sido violentada, contrariando a tese inicial dos investigadores.

Apesar da revelação, a Polícia Civil finalizou o inquérito no dia 5 daquele mês, reforçando a primeira teoria: que os quatro rapazes teriam de fato estuprado e estrangulado a garota. No dia 12, no entanto, o resultado de exame de DNA indicou que o sêmen encontrado na calcinha da garota não é compatível com o material genético de nenhum dos quatro acusados.

Esses fatos geraram uma mudança no comando da investigação policial do crime. Desde a conclusão do inquérito pela delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, o caso já contava com a participação do Ministério Público. O laudo também motivou uma visita da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR aos suspeitos, que relatavam que foram torturados pela polícia para confessar os crimes.No dia 12 de julho, o MP afirmou que os indícios coletados relacionam os suspeitos presos ao crime.

Mas, no dia 14 de julho, o promotor Paulo de Lima se manifestou em sentido contrário, afirmando que as provas presentes no inquérito não sustentam uma denúncia e pedindo a soltura dos suspeitos. Nesse meio tempo, o até então advogado de defesa dos suspeitos presos, Roberto Rolim de Moura Junior, foi destituído, sendo substituído por Andrey Salmazo Poubel.

No dia 15 de julho, o ex-defensor afirmou que foi hostilizado durante o depoimento de seus então clientes na Sesp. No mesmo dia, durante a tarde, os quatro presos foram soltos e levados a um pouso provisório pelo Gaeco. No mesmo dia, foi feito o pedido de prisão preventiva de 15 policiais denunciados por supostas torturas ocorridas nas apurações da morte da adolescente.

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Ainda em 15 de julho, os quatro suspeitos foram incluídos no programa de proteção a testemunhas. No mesmo dia, 12 dos 14 que tiveram prisão decretada no suposto caso de tortura foram detidos - sendo que a maior parte deles se entregou espontaneamente. O delegado Silvan Pereira, considerado foragido, foi detido no dia 19 de julho.

Diante das suspeitas de tortura, o Gaeco formalizou, no dia 1 de agosto, denúncia contra 21 pessoas que teriam participado ou se omitido na suposta coação aos quatro rapazes, processo no qual em um primeiro momento 16 tiveram a denúncia aceita devido a um desmembramento do processo. Os outros cinco teriam cometido violência em Araucária e em Campo Largo, o que impossibilitaria a Vara Criminal de Colombo de julgar o caso.

No último dia 14, o MP-PR afirmou ter recebido novas provas materiais quando o novo inquérito foi entregue, mas não detalhou quais seriam os indícios por estarem em segredo de justiça. Na mesma data, o MP recebeu da Polícia um pedido de prorrogação do prazo para entrega do inquérito.

No dia 23 de agosto, o MP pediu à Justiça autorização para exumar o corpo da Tayná em busca de "indícios complementares", e a requisição foi concedida na última segunda (26). O mesmo pedido havia sido negado à família da vítima. O corpo foi exumado na quarta-feira (28 de agosto), dentro do cemitério onde Tayná foi enterrada. O exame, que durou pouco mais de duas horas, foi considerado importante para ajudar a elucidar o crime, segundo o promotor Paulo de Lima, do MP. No mesmo dia, o órgão anunciou ter concedido à Polícia o prazo de mais trinta dias para a investigação, que passou a contar no dia 29 de agosto e vence no final do mês de setembro.

No último dia 12 de setembro, o delegado Silvan Pereira, primeiro a investigar o caso, além de nove outros policiais, foram intimados pelo MP a fornecer material genético para ser comparado com o sêmen encontrado nas roupas da jovem.

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