Eleição
Cirino nega oposição a quem o elegeu
Embora admita a possibilidade de ser o único integrante do atual G9 a compor sua chapa à reeleição, o presidente Jair Cirino nega que essa guinada signifique uma oposição ao grupo que o elegeu. Segundo o dirigente, essa era uma transformação programada, que acabou reforçada por problemas particulares de alguns pares. Desde o início, diz ele, era esperado que a renovação da mesa diretora fosse superior ao um terço exigido pelo estatuto do clube.
"Já lá no início imaginava que seria superior ao mínimo estatutário de um terço, porque mais do que um terço já manifestou que ia para uma atividade de sacrifício. O doutor João Gualberto (Sá Sheffer), que poderia ficar conosco, adoeceu. Outras atividades impediram que alguns pudessem continuar. Isso explica uma mudança mais radical do G9", diz o dirigente, que fez questão de ressaltar o apoio da mesa.
"Tenho absoluta consciência de que se estou na presidência do Coritiba, devo exclusivamente aos sócios, aos conselheiros e especialmente aos companheiros do G9, que muito me ajudaram e ainda me ajudam. É um paradoxo imaginar algo diferente. Se estou aqui, devo muito a essas pessoas."
Cirino ainda afirmou que sua participação na composição da nova chapa é tão ativa quanto a de 2007, quando foi montado o grupo eleito por um voto contra João Carlos Vialle. Por ora, o único nome certo para a direção é o de Cirino. Outra aposta garantida, a de Júlio Militão para a cabeça do Deliberativo, acabou descartada ontem à tarde.
Ao contrário de informação publicada na Gazeta do Povo de ontem, Cirino diz não ter ido à reunião do Conselho Consultivo de terça-feira.
Entenda os últimos dias do Coxa
Após empatar em 1 a 1 com o Flumimense, na última rodada do Brasileirão deste ano, o Coritiba acabou sendo rebaixado para a segunda divisão. Transtornados, alguns torcedores invadiram o gramado do estádio Couto Pereira e partiram para a agressão contra árbitros, funcionários no clube carioca, seguranças e policiais militares.
Pedaços de pau, cadeiras das arquibancadas, bancos de plástico de repórteres, pedaços de grades e alambrados, e até extintores foram usados como arma pelos torcedores ensandecidos. A PM reagiu e com o apoio da tropa de choque tentou controlar o tumulto. Usou de força e balas de borracha para dispersar os invasores. O estádio ficou parcialmente destruído. Um PM foi atingido e precisou ser carregado. Vários torcedores se machucaram no estádio e nos arredores. A confusão se espalhou pela cidade toda, com muita depredação e mais brigas.
Assustado, o árbitro Leandro Pedro Vuadenrelatou toda a briga em súmula, o que já garantia que ao menos um julgamento o clube iria enfrentar. No dia seguinte o STJD determinou a interdição provisória do Couto Pereira e as imagens ganharam o mundo, causando pedidos de punição severa ao clube. Com a ajuda de denúncias anônimas, alguns torcedores já estão sendo identificados e ajudarão a suavizar uma possível pena.
A Secretaria de Segurança pediu o fim das torcidas organizadas. Dois dias após a confusão, o presidente Jair Cirino repudiou as agressões, rompeu a parceria que tinha com a torcida Império Alviverde (acusada por ele de ser a mentora do quebra-quebra) e garantiu que é candidato à reeleição. Outros candidatos também deverão participar da disputa.
Entrevista com Jair Cirino, presidente do Coritiba.
Dois seguranças na entrada administrativa do Coritiba, as olheiras visíveis no rosto de Jair Cirino e ainda uma certa desordem na recentemente invadida sala da presidência entregam que a segunda semana de dezembro no Alto da Glória está sendo bem mais agitada do que qualquer dirigente ou torcedor poderia imaginar. O rebaixamento à Série B, por si só motivo para azedar o fim de ano alviverde, acabou desencadeando uma série de acontecimentos que puseram uma interrogação imensa mesmo no futuro próximo do clube.
Depoimentos à polícia; auxílio nas investigações; preparação da defesa para o julgamento de terça-feira, no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), e eleições, tudo ao mesmo tempo e em um ritmo frenético, passaram a ser parte da rotina do clube.
Foi em meio a esse turbilhão que Cirino recebeu, ontem, a reportagem da Gazeta do Povo. Nesta entrevista, falou sobre a eleição, o futuro do clube e, enfim, definiu a anunciada ruptura com a torcida Império Alviverde.
Confira a íntegra do bate-bapo:
O Coritiba vive uma semana muito conturbada, com rebaixamento, o que se seguiu à partida, denúncia no STJD e ainda há um processo eleitoral. Como está sendo trabalhada a composição da sua chapa, em termos de renovação da mesa do G9? É possível permanecer apenas o senhor da mesa atual?
Por disposição estatutária, temos de renovar pelo menos um terço do Conselho Administrativo. Eu já sabia desde o início da composição do G9 que muitos integrantes do início de 2008 não permaneceriam para uma segunda gestão. Eles já vieram com o sacrifício de suas atividades profissionais, até de ordem familiar e pessoal. Então, a renovação é bem superior àquele mínimo exigido pelo estatuto. E tem muitos outros conselheiros, que por óbvio não fazem parte da oposição - é o mesmo grupo que está no comando do Coritiba - interessados em participar do G9. Em função dos impedimentos pessoais ou profissionais de alguns, haverá, sim, uma profunda modificação nos integrantes do G9. Eu gostaria de mexer o mínimo possível, mas em decorrência dessas mudanças de ordem particular, o G9 terá uma composição diferente.
Isso pode significar apenas a sua permanência?
Até não descarto essa possibilidade. O que não significa que as pessoas que deixarem o G9 assumam uma posição contrária. Ao contrário, me apoiarão intensamente.
Em termos de visão do Coritiba. O que essas talvez oito novas pessoas vão trazer de diferente em relação a o que foi feito até aqui?
Precisamos olhar uma nova realidade que se instala no momento do Coritiba. Estou sentando com um grupo de pessoas para discutir como será o Coritiba daqui pra frente. Primeiro, temos de ter como estratégia diminuir os custos, intensificar muito a busca de novas receitas para ter um time que possa ser competitivo, sabendo das dificuldades que teremos. Uma delas é a diminuição das verbas de tevê em 50%. O Coritiba terá também outras punições. Certamente no Campeonato Brasileiro perderá alguns mandos, terá de jogar fora e isso interfere na bilheteria. Então é preciso ter uma gestão bastante criativa, que vise a reduzir os custos e criar fontes alternativas de receita.
A receita de tevê cai pela metade, dinheiro de patrocínio do BMG já foi adiantado, o clube tem dívidas (herdadas ou feitas na atual gestão) e a tendência é perder por um tempo renda de bilheteria e, consequentemente, de sócio-torcedor. O senhor poderia explicar um pouco melhor essa criatividade para obter recursos?
Temos de intensificar um plano de ampliação dos sócios. Não é porque o Coritiba foi para a Segunda Divisão que vamos nos desestimular quanto a isso. É preciso convocar o torcedor, demonstrar através de programas específicos a dificuldade que estamos enfrentando. Intensificar a possibilidade de venda e revelação. Buscar novos patrocínios. Buscar meios alternativos de aumentar essas receitas diante das dificuldades que certamente virão.
Isso é possível mesmo em uma Série B e com o time longe de casa?
Eu ainda assim acredito que o torcedor coritibano nas horas de dificuldade vai comparecer, ser sensível aos apelos da diretoria e se unir em relação à necessidade de aportar recursos para recuperar o Coritiba.
O mote é esse: juntar o torcedor para tirar o clube desse momento de dificuldade?
Exatamente. Tenho certeza de que esse é o caminho.
A torcida organizada Império Alviverde está entre esse torcedor com quem o Coritiba conta?
Na terça-feira, quando dei entrevista coletiva, deixei bem claro que o Coritiba está efetivamente produzindo uma ruptura com a Império. Claro que, absolutamente, não podemos abonar aqueles atos de vandalismo que impressionaram o mundo todo logo após o jogo contra o Fluminense. Gostaria de dizer que aqueles atos não espelham o comportamento normal da grande torcida do Coritiba, que ao longo de sua história tem sido considerada uma das mais bonitas do futebol brasileiro. Tem sido alvo de elogios da imprensa nacional e local. Aqueles atos são praticados por pessoas desordeiras disfarçadas de torcedores. Estamos absolutamente empenhados na identificação desses baderneiros que invadiram o campo. Estamos já agindo em integração com os órgãos de segurança pública, Ministério Público, Polícia Civil. As imagens e os recursos que tínhamos já permitem identificar muitas dessas pessoas, que estão indiciadas, respondendo aos processos respectivos. Essas imagens indicam que essas pessoas saíram ou pertencem a torcida da Império.
O clube estuda cobrar a organizada na Justiça pelos prejuízos causados ao seu patrimônio?
Se ficar estabelecido - estamos falando em tese, pois as imagens dizem isso, mas é muito prematuro falar algo antes de uma comprovação - e a responsabilidade ficar evidente que possa identificar os autores daquelas invasões como integrantes da torcida organizada, não tenha dúvida de que o Coritiba estudará as medidas judiciais para se reparar materialmente dos danos que lhe foram proporcionados.
Isso vale também para a sede da Império, anexa ao estádio?
Já determinei ao departamento jurídico do clube que estude as medidas para que aquele espaço seja desocupado. Não é possível que uma torcida que se diz organizada e acaba promovendo tanta desordem, use instalações do próprio clube. Nos dias que antecederam o jogo, na quarta-feira, estive aqui e fui avisado por um dos integrantes da torcidas que eles, de qualquer sorte, invadiriam o campo, promoveriam a depredação e me caçariam em qualquer lugar onde estivesse caso o Coritiba caísse. Eu, evidentemente, ao tomar conhecimento por um dos líderes da torcida, tomei a cautela de levar essa ameaça aos órgãos competentes, através de expediente que protocolei na Secretaria de Segurança Pública, e aqui internamente, de até 160 seguranças que de regra trabalham no estádio em dia de jogos fosse para quase 280. Foi esse o número de seguranças para prevenir a consumação daquelas ameaças e a própria secretaria foi notificada da necessidade de intensificar esse policiamento. Cautelas foram tomadas. Quer me parecer que de qualquer modo iam acabar invadindo, pois de qualquer modo eles estavam determinados a isso, como também promover verdadeiro quebra-quebra em toda a cidade.
Ao longo do ano a Império esteve muito próxima do clube. No jantar do centenário, por exemplo, o palco trazia uma bandeira da organizada, ao invés de uma bandeira do clube. Essa abertura não foi excessiva? Não fez com que eles se vissem no direito de fazer essa cobrança violenta?
O Coritiba tinha algumas ações consorciadas com a torcida, até mesmo no centenário. Entretanto, depois dos episódios de domingo é necessário produzir uma ruptura e as minhas palavras foram muito claras. Doravante não teremos mais possibilidade nenhuma de dar benesses à torcida. Ingressos, definitivamente, não vamos mais fornecer. E o pequeno espaço que eles ocupam no Coritiba, determinei ao departamento jurídico que promova a recuperação daquela área. Estamos fazendo primeiro por vias normais. Mas se houver a resistência, buscaremos vias judiciais. A impressão é de que tudo se resolverá pacificamente.
Como definiria seus dez últimos dias?
Eu... os últimos dez dias foram os que determinaram a queda do Coritiba. Eu até anotei os gols que levamos (nota do editor: Cirino puxa uma folha de papel). Nas últimas rodadas estávamos cinco pontos longe da zona de rebaixamento e o clube que vinha tendo um desempenho extraordinário no segundo turno, de repente nas últimas três rodadas parou de produzir. De nove pontos, ganhamos um. Tomamos nove gols. Fizemos dois. Enquanto os outros, que estavam abaixo, jogaram com todo o entusiasmo, se recuperaram e o Coritiba não fez a pontuação de que precisava. Lamentamos profundamente essa realidade, temos de assumi-la e a partir dela lutar por uma recuperação do Coritiba, que é dos maiores clubes do futebol brasileiro. Tenho certeza de que com o apoio dos verdadeiros e leais torcedores, o Coritiba vencerá esse momento e reconquistará, no próximo ano, seu verdadeiro lugar, que é na Primeira Divisão.
Mas e do ponto de vista pessoal, como foram seus dez últimos dias?
Eu realmente recebi muitas ameaças de torcedores, o que motivou representação na secretaria de segurança pública. Estou andando com seguranças. A minha família, por alguns dias, não pernoitou na minha casa dada a severidade e gravidade de algumas ameaças. Tenho prestado declarações na polícia. O meu telefone teve o seu sigilo quebrado para identificar pessoas que estão fazendo ameaças escritas ou gravadas. E têm muitas. A capacidade é de 20 mensagens. Assim que grava as 20, entram mais 20. Acabam essas 20, tem outras 20. A polícia certamente está vendo isso. Espero que a torcida se acalme um pouco. É preciso aceitar essa realidade e retomar o caminho dentro de uma normalidade e fazer com que o Coritiba retorne ainda em 2010 à Primeira Divisão.
Mesmo assim o senhor vai ser candidato. Sua família reagiu como? Em algum momento o senhor se questionou se valeria a pena colocar sua integridade física em risco pelo clube?
Eu só registrei as ameaças porque era importante, pela seriedade delas. Mas não me intimidam. Se já estava presente o propósito, a partir de estimulações dos próprios conselheiros, que me elegeram, de re-propor o meu nome para um novo período de gestão, com a queda essa pretensão se reforçou ainda mais. Temos de reverter essa situação que também, de certo modo, temos responsabilidade. O presidente no cai sozinho, é um conjunto de coisas. Temos uma diretoria, proposta democrática de decisões sempre colegiadas. O presidente exercita a sua vontade, mas não a impõe. Caímos todos. Não é o presidente o responsável único por isso. Há um conjunto de coisas que decretaram a queda do Coritiba. Mas com a queda, essa pretensão de re-propor o nome, intensificou-se ainda mais. E as ameaças, acreditem, não me intimidam. Antes, até, me estimulam a realizar um trabalho de recuperação do Coritiba.
O senhor pretende adotar um estilo diferente, caso seja eleito?
Ao longo da minha vida, sempre tive um estilo pessoal muito próprio, característico. Sendo eleito agora, será a sexta presidência que ocupo. Já fui presidente de centro acadêmico, diretório acadêmico, duas vezes da Associação Paranaense do Ministério Público e agora do Coritiba. Ao longo da minha vida, sempre estive no exercício da presidência de entidades importantes. Não tão grandes quanto o Coritiba ou o MP, mas também importantes. No comando dessas instituições, tive sempre uma atitude muito democrática e participativa. Aqui no Coritiba, sempre tive uma atitude de muito respeito aos conselhos. Tive um bom relacionamento com todas as atividades relacionadas ao futebol, com a imprensa. Por isso às vezes fico indignado com algumas injustiças praticadas. Tenho absoluta consciência que se estou na presidência do Coritiba, devo exclusivamente aos sócios, aos conselheiros e especialmente aos companheiros do G9, que muito me ajudaram e ainda me ajudam. É um paradoxo imaginar algo diferente. Se estou aqui, devo muito a essas pessoas.
O senhor encabeça a composição do novo G9?
Olha, como também participei do anterior. É um absurdo um presidente não participar (da indicação) dos integrantes da sua diretoria. Participei intensamente como também estou agora. Tem pessoas demais até que querem participar. Estamos analisando aquelas que têm condições materiais de tempo para se dedicar efetivamente ao Coritiba. Não é fácil ter a responsabilidade de compor a diretoria de um clube da extensão do Coritiba. Ainda mais com a responsabilidade de trazê-lo de novo para a primeira divisão. Estou, sim, participando. O prazo, se não me engano, é até terça-feira. Quero ver se defino isso antes, pois na terça-feira quero estar no julgamento do Coritiba. Por óbvio, tenho participado intensa e ativamente na formação. Não vou indicar nomes. A única coisa que está acertada é minha presença na cabeça do G9 e a do Júlio Militão na mesa do Deliberativo, cujos componentes ele também está avaliando com seus companheiros.
Sua participação em termos de composição agora é idêntica à do fim de 2007?
E nem pode ser diferente, nem pode ser diferente.
O senhor imaginava ao fim de 2009, para concorrer à reeleição, com uma renovação quase total?
Já lá no início imaginava que seria superior ao mínimo estatutário de um terço, porque mais do que um terço já manifestou que ia para uma atividade de sacrifício. O doutor João Gualberto, que poderia ficar conosco, adoeceu. Enfim, outras atividades impediram que alguns pudessem continuar. Isso explica uma mudança mais radical do G-9. Não que eu tivesse posição discordante com todos os integrantes. Pelo contrário, foram todos muito fiéis. Mas no final tivemos algumas dificuldades de pessoas que tiveram de se afastar.
O seu primeiro ano, em termos de resultado, foi positivo, com título paranaense, um Brasileiro surpreendente para quem acabara de voltar da Série B. Criou-se uma expectativa para 2009, em que o clube perdeu o Paranaense, foi, é verdade, semifinalista da Copa do Brasil, mas teve problemas na agenda do centenário, reconheceu que o plano de sócios não era propriamente vantajoso e caiu para a Segunda Divisão. Por que um ano tão promissor foi sucedido por um tão catastrófico?
No futebol o exercício de qualquer prognóstico é bastante perigoso. Às vezes você monta um time para ser campeão e acaba caindo. Outras, um time sem grandes pretensões acerta e acaba atingindo classificações inesperadas. Tenho certeza absoluta de que esse time de 2009, no geral, era superior tecnicamente àquele de 2008. No entanto, em 2008, até as últimas rodadas do returno a torcida nutria a expectativa de classificar-se à Libertadores, ganhamos o Paranaense. Esse ano, um time tecnicamente superior, e mostra que na campanha da Copa do Brasil nós tivemos um desempenho jamais realizado na história centenária do Coritiba. Nunca o clube avançou tanto na história da Copa do Brasil. Não fora uma situação de erro de arbitragem contra o Internacional, que deixou claramente de dar uma penalidade no Ariel, que motivou reclamação desse presidente à comissão de arbitragem, o Coritiba poderia ter decidido com o Corinthians e quem sabe ser campeão. No Brasileiro, no primeiro turno tivemos uma campanha lamentável. Depois, com a mudança do comando técnico e a vinda do Ney Franco, o time apresentou índice de aproveitamento elevadíssimo. Se tivéssemos no primeiro o mesmo aproveitamento, chegaríamos com possibilidade de Libertadores. Infelizmente, as coordenações técnicas - uma delas atendendo até apelo da torcida - não tiveram o desempenho que a gente esperava. Não vai nenhuma crítica a os que estiveram à frente do comando técnico, mas o fato é que o desempenho no turno foi insatisfatório. No segundo, caiu assustadoramente de produção nas últimas três rodadas. Enquanto os outros times jogaram com alma, o nosso não produziu e isso determinou a nossa queda. Tivemos outros problemas, não se trata de justificar. Perdemos um mando de campo contra o Santos por atos que ocorreram no estádio do nosso adversário. O Coritiba não teve participação ou responsabilidade, mas foi punido e depois absolvido. Tivemos de jogar no interior contra o Santos e perdemos o jogo. Se tivéssemos jogado, um empate que fosse teria evitado o rebaixamento. No futebol, às vezes você está a um passo do céu e a um milímetro do inferno. Ou você vai para o sucesso ou, infelizmente, cai. Foi o que aconteceu.
Suas colocações foram basicamente a situações de campo. Mas e a parte da diretoria para, por exemplo, não fazer um bom time jogar o que se esperava?
O que passa é o resultado. Se caímos, caímos todos. Não caiu o presidente, não caiu a diretoria. A responsabilidade tem ser compartilhada pelo método de gestão que escolhamos. Agora se começa a buscar as causas. Todo o time tem uma razão por que não ganhou, por que não classificou. Não compete agora ficar buscando essas causas. O que compete é viver, aceitar, e viver a nova realidade, que não é fácil. Temos de mudar estratégias, exercitar criatividade, modos diferentes de buscar reforços e se envolver em uma luta coordenada para trazer o Coritiba de volta ao primeiro escalão. O conjunto, passando pela diretoria, comissão técnica, jogadores, enfim, todos foram responsáveis. É preciso rever algumas coisas para re-encaminhar o Coritiba ao seu devido lugar.
Mas buscar as causas não é um exercício de auto-análise necessário para tornar essa nova realidade menos árdua?
Já tentamos, fizemos as contas e diagnosticamos como viver essa nova realidade. Para isso, inclusive, as gente está discutindo até com os novos integrantes do futuro G9, intensamente, desde terça-feira para cá.
Fala-se na possibilidade o Moro ou algum outro conselheiro encabeçar uma chapa de oposição. É uma hipótese real?
Não temo absolutamente nada. Ganhamos a eleição junto com o atual conselho alguns dias de o Coritiba, pela oposição, retornar à primeira divisão. Agora, o Coritiba caiu e o espaço democrático está aberto. Não vejo nenhuma dificuldade e acho até salutar que se inscrevam chapas. Cheguem com suas propostas e apresentem ao colégio eleitoral, que é o Conselho Deliberativo, mais conselheiros natos e vitalícios, e debatem-se as propostas. Por enquanto, o que eu sei é que eu sou o candidato, estou cercado de ilustres coritibanos. Falta definir os nomes, que serão anunciados nos próximos dias.
O que o senhor espera do julgamento de terça? O peso da denúncia lhe assusta?
Não. A procuradoria de Justiça desportiva é o órgão acusador, é a visão do órgão acusador. É natural que impute todas as acusações ao clube que teria praticamente as infrações, não me surpreende. O Coritiba está coletando toda a sorte de provas para mostrar que a alegada falta de estrutura, base da denúncia, é falsa. Tinha estrutura, todos os laudos competentes foram aprovados. Por que de repente deixou de ter essa estrutura? Até hoje, inclusive aqui no Coritiba, não houve nada dessa natureza. Essa invasão iria, efetivamente, acontecer, estava programada para acontecer, nos prevenimos para não acontecer e ainda assim ocorreu. Vamos demonstrar que o Coritiba não teve essa responsabilidade. Ao contrário, teve responsabilidade de reforçar a segurança, alertar os órgãos de segurança e aumentar o seu efetivo. Tenho certeza no sucesso de nossa ação, com as provas que estamos levantando e haveremos de produzir, que essa imputação demasiada vai cair muito significativamente. O Coritiba já foi vítima de outras situações e não pode continuar a ser vítima nem bode expiatório por situações que já ocorreram em outros estádios do país e do mundo.
O clube vai ao Rio pela menor pena possível ou há alguma esperança de absolvição?
Difícil. Se um copo às vezes determina a perda de um mando de campo, entendemos que alguma punição o Coritiba terá. A luta é minimizar ao máximo essas imputações e o clube não terá tudo aquilo que se anuncia como punição. Seria pretensão demasiada esperar que o Coritiba fosse absolvido. Temos certeza de que a interdição ficará nos limites do normal na Justiça desportiva e não como está calcado na acusação da procuradoria.
Já trabalha com a possibilidade de captação de recursos para mudanças na estrutura do estádio e tem em mente onde o clube jogará?
Como não temos campeonato imediatamente, prefiro não raciocinar ainda por hipóteses. Vamos esperar o resultado para ver, já na quarta-feira - e ainda tem o processo eleitoral -, que alternativa seguiremos. Não tenho ideia de onde seria esse outro estádio.
Qual papel o senhor considera que a sua gestão ocupa dentro da história do Coritiba?
(para por três segundos) Olha... (para por mais cinco segundos) Por óbvio aconteceram coisas muito boas nesse período. Uma boa campanha ano passado, também na Copa do Brasil desse ano. E, infelizmente, uma má campanha no Brasileiro determinou a nossa queda. Em algumas coisas, avançamos significativamente. Implantamos um novo programa de sócios. Chegamos a ter perto de 20 mil sócios. Hoje são um pouco menos. Pretendemos intensificar ainda mais. Outro dado positivo foi que profissionalizamos coisas que não existiam, como o departamento de marketing, que era praticamente inexistente. Trabalhou muito buscando patrocínio, nos eventos do centenário - um ou outro não deu certo, mas a maioria deu. Profissionalização do futebol. Trouxemos técnicos de competência, alguns que não produziram, mas isso é do futebol. Mesmo técnicos laureados não dão certo. Não significa que são incompetentes porque não deram certo no Coritiba. Tivemos o Dorival Júnior que fez um bom trabalho. O próprio René, que fez um bom trabalho anteriormente. O Ney Franco, jovem ainda, mas com uma carreira vitoriosa e que se sentiu no compromisso de permanecer conosco para recuperar o Coritiba. É a manutenção de alta profissionalização no comando do futebol do Coritiba. E também das categorias de base. Reestruturamos, o Coritiba conquistou o juvenil e o júnior, algo que há muito tempo não acontecia. Temos a perspectiva de bons valores. Investimos muito mais do que até então. São aspectos positivos.
O senhor não citou o Ivo. Ele foi um erro?
Não necessariamente. Já no passado havia feito um bom trabalho. Surgiu o nome dele, infelizmente não deu certo. Não vai ser a primeira vez que isso vai acontecer.
Quando o Coritiba subiu, em 2007, teve a força da categoria de base, com Keirrison, Henrique, Pedro Ken, Marlos. Mais uma vez o Coritiba vai se servir da base para subir? Partindo desse princípio, haverá um cuidado extra na confecção de contratos?
Renovamos o contrato de alguns jogadores. Essas situações, caso do Marlos e do Henrique, já vinham de outros períodos e não conseguimos estender. Os valores que oferecemos para a renovação do Marlos estavam muito aquém do já prometido pelo São Paulo. Esses valores revelados, o Dirceu é um caso, já estendemos o contrato. O Vanderlei é um deles, o Renatinho (consulta o assessor de imprensa), o Willian. E mais outros jogadores que estão na base que já estão com extensão de prazo, para que não ocorra o que aconteceu com esses jogadores que você menciona.
Sobre sua mesa há uma cópia do dvd Da queda ao Alto da Glória, sobre o acesso de 2007. É uma inspiração?
(Pega o DVD, olha)... Eu disse que, lamentavelmente, temos de acordar para a realidade. E acordar para a realidade é viver esse momento, encarar e superar. Não é a primeira vez que o Coritiba vivencia esse momento de crise, de grandes dificuldades e com o apoio do que o Coritiba tem mais valioso, a sua torcida, vamos nos unir e tirar o clube de novo desta crise e voltar à primeira divisão já em 2010.
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