Mais de 30 horas depois, os policiais que negociaram com os presos rebelados na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II) fecharam um acordo e os dois agentes penitenciários que eram mantidos reféns foram liberados. O entendimento foi firmado por volta das 14 horas, conforme confirmou a Secretaria de Estado de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju). Cerca de 60 presos integraram o motim, iniciado às 7h45 desta terça-feira (16) no terceiro bloco da penitenciária o mesmo onde aconteceu a rebelião da semana passada.
Logo após o acordo, os dois agentes penitenciários feitos reféns durante a rebelião foram liberados pelos presos. André Luiz Ayres Kendrick, diretor-assistente do Departamento de Execuções Penais do Paraná (Depen-PR), disse que os reféns estão bem e que foram encaminhados para cuidados médicos.
Kendrick relatou que, como é praxe em todas as rebeliões do estado, os servidores serão alvo de uma sindicância. A investigação pretende apurar se houve responsabilidade dos agentes no motim. Os presos, por sua vez, devem passar por processos disciplinares e, possivelmente, devem ter acrescentado tempo em suas respectivas penas.
O diretor-assistente relatou que nesta terça-feira (16) houve uma mudança de postura nas negociações que foi decisiva para o término do motim. Após uma ameaça de começar uma queima de colchões, a Polícia Militar impôs uma condição. "A PM disse: 'olhe, se vocês começarem com isso [queima de colchões], vamos parar com tudo e vamos agir de outra forma'", disse Kendrick.
O diretor-assistente também informou que foi colocada uma chapa de aço na única parede da galeria que divide os presos rebelados dos presos que pertencem a outra facção criminosa. "Eles pediram também que visitação fosse mantida na área deles e que as sacolas de comida e expediente fossem mantidas durante a semana, o que foi aceito."
Conforme Kendrick, os presos rebelados foram transferidos momentaneamente para outra galeria enquanto estão reparando danos nessa onde eles estavam.
Motivos da rebelião
O principal motivo da revolta era o medo que os presos rebelados têm de detentos de uma facção rival. Ao longo das conversas, os amotinados chegaram a pedir a construção de um muro para dividir a PEP II ao meio, solicitação que foi rechaçada pelo governo do estado. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) e a PM.
As autoridades não acataram o pedido da construção do muro, mas grades que já separam as galerias "rivais" foram reforçadas - já que ficaram fragilizadas com o motim da semana passada. Os trabalhos de reforço terminaram nesta manhã.
Início do motim
O motim, que tomou conta das galerias 9 e 10, começou na hora da entrega do café da manhã, na 9ª galeria. Os presos conseguiram abrir algumas das celas e detiveram os agentes quando esses entraram para entregar as refeições. A Seju informou que, momentos antes da retomada das negociações nesta quarta-feira, os dois agentes feitos reféns foram apresentados pelos presos. Eles aparentavam estar sem ferimentos.
Nesta manhã, um preso que estava entre os grupos dos rebelados desistiu de participar do motim e tentou sair das galerias tomadas pelos rebelados. Ele se jogou de uma altura de cinco metros, foi socorrido e levado para o complexo médico. O preso passa bem, segundo a PM.
Facções rivais
A reportagem da Gazeta do Povo apurou que dentro do presídio ocorre uma troca constante de ameaças entre detentos da PEP II. No fim de semana, os presos rebelados ameaçaram integrantes de uma facção criminosa paulista. Esses detentos formam um grupo de oposição à facção. Após as transferências ocorridas no sábado, integrantes da facção paulista - que domina os presídios - revidaram as ameaças de forma ostensiva. Com medo, o grupo que ficou naquela galeria voltou a se rebelar pedindo mais segurança.
20º caso do ano
O motim na PEP II iniciado na manhã de terça-feira (16) foi o 20º caso do ano nas penitenciárias do Paraná. A revolta mais violenta ocorreu no fim do mês passado, na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), que terminou depois de 45 horas, com cinco presos mortos, e também registro de feridos e desaparecidos.
5 de janeiro de 2014 - Dezoito presos se amotinaram na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara. Durante uma hora eles negociaram transferência para o interior do estado. Um agente foi mantido refém pelos presos.
09 de janeiro de 2014 - Um agente penitenciário foi mantido refém por presos da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), na Região Metropolitana de Curitiba. Os presos pediam transferência para penitenciárias de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná.
15 de janeiro de 2014 - Após três horas de motim, presas do Centro de Regime Semiaberto Feminino (Craf) de Curitiba libertaram duas agentes penitenciárias que foram feitas reféns. As detentas pediam melhorias em higiene e limpeza, além de tratamento semelhante ao que ocorre na Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara.
16 de janeiro de 2014 - Um agente penitenciário foi mantido refém durante 16 horas na PCE, em Piraquara. Os presos pediam transferências para Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu.
10 de fevereiro de 2014 - Vinte e quatro presos, que pediam transferência para outros presídios do estado, mantiveram um agente penitenciário como refém na PEP II. O agente foi libertado após cinco horas de negociações.
06 de março de 2014 - Presos que reivindicavam transferências para Londrina e Francisco Beltrão mantiveram por 15 horas dois agentes penitenciários como reféns na PEP I. As negociações duraram poucas horas, mas os presos se recusaram a viajar de noite, o que fez com que o motim terminasse somente após 15 horas.
10 de março de 2014 - Na PEP II, durante quatro horas um agente penitenciário ficou nas mãos de seis presos que pediam transferências para Guarapuava. Os presos foram transferidos e o agente liberado após negociação.
19 de março de 2014 - Dois agentes carcerários que escoltavam presos foram dominados pelos detentos na PEP I. Os presos libertaram os agentes após conseguirem transferência para cidades de origem. Foram 15 horas de negociação.
19 de março de 2014 - Também na PEP I, durante uma hora um agente foi dominado por presos que pediram transferência para Maringá, no Noroeste do Paraná.
16 de abril de 2014 - No Presídio Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, foram oito horas de negociação até que os detentos libertaram um agente penitenciário. Os motivos da rebelião não foram informados, mas o presídio sofre com falta de vagas.
01 de maio de 2014 - Em Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro, presos da Cadeia Pública do município se rebelaram e pediram transferência. Alguns deles foram colocados em liberdade, pois já haviam cumprido pena.
14 de julho de 2014 - Três agentes carcerários foram feitos reféns na cadeia pública de Telêmaco Borba. O motim durou cerca de 17 horas. Antes do motim, houve tentativa de fuga.
17 de julho de 2014 - Por 16 horas, presos da PEP II realizaram um motim. Quatro presos pediam transferência para Londrina. Um agente na penitenciária foi mantido sob domínio dos presos.
22 de julho de 2014 - Quatro presos se rebelaram e mantiveram um agente refém na PCE. Eles pediam transferência para outras unidades prisionais do Complexo Penitenciário de Piraquara (CCP).
22 de julho de 2014 - Na Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu I (PEF I), no Oeste do Paraná, dois agentes foram mantidos sob domínio de dezesseis presos por seis horas. A exigência também era de transferência para outras unidades prisionais do estado.
24 de agosto - Na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), dois agentes penitenciários foram mantidos reféns por cerca de 45 horas. Cinco pessoas morreram no motim e outras 25 ficaram feridas no motim mais violento do Paraná dos últimos quatro anos.
9 de setembro - três agentes penitenciários foram mantidos como reféns por um grupo de 14 presos na cadeia pública de Guarapuava, na região Centro-Sul do Paraná. Os detidos concordaram em liberar os funcionários da prisão depois de acertar a transferência de 74 presos para outras penitenciárias do estado. O motim terminou sem feridos nem mortos.
10 de setembro - 77 presos foram transferidos da Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (PECO), no Noroeste do Paraná, depois de um motim de 18 horas. Foram 13 reféns, sendo 12 presos e um agente penitenciário.
12 de setembro - presos do bloco 3 da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), na Região Metropolitana de Curitiba, mantiveram dois agentes penitenciários reféns por 25 horas. Após o acerto de transferências, agentes e presos que também eram mantidos reféns foram liberados e ninguém ficou ferido.