Mais de 28 horas depois do início do motim na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG), presos rebelados e autoridades vinculadas à pasta da segurança pública do Paraná continuam em negociação, sem perspectiva de um acordo que possa pôr fim à revolta. Pelo menos 40 presos comandam a rebelião, na qual 11 agentes penitenciários são feitos reféns, além de cinco detentos que cumprem pena por crimes sexuais.
Em entrevista concedida no início desta tarde, a Polícia Militar (PM) - que realiza diretamente as negociações - disse que são três as reivindicações feitas pelos rebelados até agora. Além de melhorias internas na unidade e progressão de pena para os presos que têm direito, alguns deles pedem transferências para outras carceragens do estado, o que ainda está sendo analisado pela Secretaria de Estado de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju).
O 1º Tenente Fábio Zarpelon confirmou a libertação de um dos 12 agentes que ainda eram mantidos reféns. Segundo ele, o trabalhador, que sofre de pressão arterial e diabetes, foi liberado em troca da garantia de almoço para os presos. Quando começou a revolta - às 11h30 desta segunda-feira (13) - 13 agentes foram pegos pelos presos.
Este foi o segundo agente liberado pelos detentos. O primeiro foi solto ainda na tarde desta segunda, depois de ter sido queimado com cola quente. Alguns dos presos permitiram a retirada do trabalhador para que ele fosse encaminhado a uma unidade médica. Esse mesmo agente voltou à unidade nesta manhã, temendo pela vida dos companheiros. Ele acompanha a situação do lado de fora da PIG e não quis falar com a imprensa, por estar muito abalado.
Por volta das 15h40 não havia mais nenhum refém no telhado da penitenciária, e surgiram pequenos focos de sinal de fumaça. Além dos trabalhadores, entre cinco e seis presos condenados por crimes sexuais também são reféns.
Sem ligação com facções criminosas
O motim toma conta das cinco galerias que compõem a penitenciária. No local, estão dez presos que participaram da rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel, no fim de agosto, que terminou com cinco mortos. A PM descartou, inicialmente, o comando da revolta por esses presos ou por detentos ligados à facções criminosas. A unidade de regime semiaberto, que fica ao lado da penitenciária, não foi afetada pelo motim.
Como na segunda-feira, os rebelados continuam em cima do telhado do prédio da PIG, que foi parcialmente destruído. Eles realizam uma espécie de "rodízio" entre os agentes reféns, e cada um deles é mantido amarrado por um determinado tempo ao para-raios da unidade. Até as 10h40, houve pelo menos três trocas.
Um helicóptero da polícia que sobrevoou a unidade por cerca de cinco minutos no meio da manhã deixou os detentos agitados. Ameaças de morte são constantes a qualquer movimentação da polícia.
Familiares dos presos estão concentrados em frente à penitenciária, onde entraram, por volta das 10h30, viaturas do Batalhão de Choque da PM. Isolados por uma faixa de segurança, estes familiares protestaram no fim da manhã contra a falta de informação sobre o que ocorre no interior da penitenciária.
Com a situação, um policial militar foi designado para conversar com os familiares. Logo depois, outro policial reforçou a ausência de feridos dentro da unidade. Também foi dito aos familiares que os presos tomaram café da manhã normalmente, e que o almoço seria servido dentro do horário previsto.
Duas tendas foram instaladas para que as famílias não fiquem expostas ao sol. Os parentes dos detentos acenaram a eles ao receber a informação da construção da proteção, num sinal de concordância.
Primeiro dia da revolta
Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da PM, iniciaram as negociações por volta das 17 horas desta segunda-feira. Durante as conversas, treze reféns foram jogados do telhado da unidade com as mãos amarradas. Todos sofreram apenas ferimentos leves e passam bem, conforme a Seju. O Sindarspen, no entanto, informou que um dos presos teve traumatismo craniano após ser jogado do telhado, segundo informações do Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu).
Os rebelados mantiveram, durante praticamente toda a tarde, os detentos que cumprem pena por crimes sexuais amarrados, e seminus, no telhado da penitenciária. No topo do prédio eles também hastearam as bandeiras do Paraná e do Brasil e uma faixa com os dizeres "Pedimos força dos irmãos".
Também no primeiro dia de rebelião uma grande quantidade de fumaça pôde ser observada saindo da PIG. Nesta terça, o Sindarspen disse que a fábrica da unidade foi queimada. No espaço eram produzidas botinas e luvas para uso de proteção individual. A parede da parte de trás do recinto onde ficava a fábrica chegou a rachar. A Seju confirmou o fato, mas disse que o incêndio atingiu apenas um dos dois canteiros de trabalho existentes na unidade.
A PM já identificou tesouras, pedaços de madeira e outros artefatos improvisados, que estão sendo utilizados como armas pelos presos rebelados.
Capacidade
Segundo o Mapa Carcerário da Seju, a PIG abriga 239 presos e é considerada uma unidade modelo, onde os detentos podem estudar e trabalhar no local. Ainda de acordo com a Seju, cerca de 40 presos comandam a rebelião e o motim começou quando eles se deslocavam para o canteiro de trabalho, dentro da própria unidade, na manhã desta segunda, e aproveitaram a oportunidade para render os agentes.
5 de janeiro de 2014 - Dezoito presos se amotinaram na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara. Durante uma hora eles negociaram transferência para o interior do estado. Um agente foi mantido refém pelos presos.
09 de janeiro de 2014 - Um agente penitenciário foi mantido refém por presos da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), na Região Metropolitana de Curitiba. Os presos pediam transferência para penitenciárias de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná.
15 de janeiro de 2014 - Após três horas de motim, presas do Centro de Regime Semiaberto Feminino (Craf) de Curitiba libertaram duas agentes penitenciárias que foram feitas reféns. As detentas pediam melhorias em higiene e limpeza, além de tratamento semelhante ao que ocorre na Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara.
16 de janeiro de 2014 - Um agente penitenciário foi mantido refém durante 16 horas na PCE, em Piraquara. Os presos pediam transferências para Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu.
10 de fevereiro de 2014 - Vinte e quatro presos, que pediam transferência para outros presídios do estado, mantiveram um agente penitenciário como refém na PEP II. O agente foi libertado após cinco horas de negociações.
06 de março de 2014 - Presos que reivindicavam transferências para Londrina e Francisco Beltrão mantiveram por 15 horas dois agentes penitenciários como reféns na PEP I. As negociações duraram poucas horas, mas os presos se recusaram a viajar de noite, o que fez com que o motim terminasse somente após 15 horas.
10 de março de 2014 - Na PEP II, durante quatro horas um agente penitenciário ficou nas mãos de seis presos que pediam transferências para Guarapuava. Os presos foram transferidos e o agente liberado após negociação.
19 de março de 2014 - Dois agentes carcerários que escoltavam presos foram dominados pelos detentos na PEP I. Os presos libertaram os agentes após conseguirem transferência para cidades de origem. Foram 15 horas de negociação.
19 de março de 2014 - Também na PEP I, durante uma hora um agente foi dominado por presos que pediram transferência para Maringá, no Noroeste do Paraná.
16 de abril de 2014 - No Presídio Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, foram oito horas de negociação até que os detentos libertaram um agente penitenciário. Os motivos da rebelião não foram informados, mas o presídio sofre com falta de vagas.
01 de maio de 2014 - Em Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro, presos da Cadeia Pública do município se rebelaram e pediram transferência. Alguns deles foram colocados em liberdade, pois já haviam cumprido pena.
14 de julho de 2014 - Três agentes carcerários foram feitos reféns na cadeia pública de Telêmaco Borba. O motim durou cerca de 17 horas. Antes do motim, houve tentativa de fuga.
17 de julho de 2014 - Por 16 horas, presos da PEP II realizaram um motim. Quatro presos pediam transferência para Londrina. Um agente na penitenciária foi mantido sob domínio dos presos.
22 de julho de 2014 - Quatro presos se rebelaram e mantiveram um agente refém na PCE. Eles pediam transferência para outras unidades prisionais do Complexo Penitenciário de Piraquara (CCP).
22 de julho de 2014 - Na Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu I (PEF I), no Oeste do Paraná, dois agentes foram mantidos sob domínio de dezesseis presos por seis horas. A exigência também era de transferência para outras unidades prisionais do estado.
24 de agosto - Na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), dois agentes penitenciários foram mantidos reféns por cerca de 45 horas. Cinco pessoas morreram no motim e outras 25 ficaram feridas no motim mais violento do Paraná dos últimos quatro anos.
9 de setembro - três agentes penitenciários foram mantidos como reféns por um grupo de 14 presos na cadeia pública de Guarapuava, na região Centro-Sul do Paraná. Os detidos concordaram em liberar os funcionários da prisão depois de acertar a transferência de 74 presos para outras penitenciárias do estado. O motim terminou sem feridos nem mortos.
10 de setembro - 77 presos foram transferidos da Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (PECO), no Noroeste do Paraná, depois de um motim de 18 horas. Foram 13 reféns, sendo 12 presos e um agente penitenciário.
12 de setembro - presos do bloco 3 da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), na Região Metropolitana de Curitiba, mantiveram dois agentes penitenciários reféns por 25 horas. Após o acerto de transferências, agentes e presos que também eram mantidos reféns foram liberados e ninguém ficou ferido.
16 de setembro - um segundo motim ocorreu em um intervalo de menos de uma semana na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II). Dois agentes penitenciários foram feitos reféns durante mais de 30 horas, período em que a rebelião perdurou. O principal motivo da revolta era o medo que os presos rebelados têm de detentos de uma facção rival. Ninguém ficou ferido.