A rebelião de 48 horas na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG) foi "atípica", na opinião do secretário estadual de Segurança Pública, Leon Grupenmacher. Segundo ele, lá os presos têm acesso à educação, e ao trabalho e não há superlotação.
Embora o modo de ação dos amotinados tenha sido semelhante ao das 20 rebeliões que já ocorreram no estado em menos de um ano, segundo o secretário, não é possível afirmar que se trata de uma ação orquestrada ou motivada por comandos carcerários, como uma facção criminosa que domina os presídios no Brasil.
"Não há nada que diga que foi um instrumento organizado", afirma Grupenmacher. Os representantes da Vara de Execuções Penais (VEP) de Guarapuava a promotora Márcia Francine Broietti e a juíza Patrícia Carbonari informaram durante entrevista coletiva que a carta de reivindicações dos presos estava escrita sem erros de português. "Eles usaram, inclusive, termos jurídicos", acrescenta Márcia.
Maus-tratos
Entre os pedidos dos presos, na carta, e confirmados pelos parentes dos detentos, estava o fim da prática de maus-tratos e de possíveis excessos cometidos durante as vistorias dos familiares nos dias de visitas. O delegado Luiz Alberto Cartaxo, presente à coletiva, disse que não há registro de excessos. A juíza Patrícia Carbonari, porém, confirmou que na semana passada familiares de presos entregaram um abaixo-assinado na VEP pedindo a intervenção judicial para os casos de abusos cometidos contra detentos.
Familiares dos presos, reunidos em frente à PIG durante os três dias de rebelião, alegaram que os presos reclamavam da comida e que eram submetidos à humilhação por parte dos agentes penitenciários. "Os agentes reféns que apanharam é porque batiam nos presos lá dentro, pode ver que alguns agentes que estavam de reféns eram bem tratados e ganhavam até água", sugeriu a mãe de um detento, Janete Aparecida Santos.
O Sindarspen que representa os agentes nega a queixa. A vice-presidente do Sindicato, Petruska Sviercoski, disse que é preciso que o estado tome providências para que o "pesadelo" das rebeliões com agentes sob o poder de presos não se repita. A PIG tem 90 agentes carcerários. Segundo a promotora Márcia Francine Broietti, a unidade perdeu 30 agentes nos últimos anos que não foram repostos.
A PIG foi inaugurada em 1999 e esta foi a primeira rebelião na história da unidade. Durante o motim, os presos fizeram 14 presos feridos e 13 agentes penitenciários reféns. Após a reocupação do prédio pela PM, foram recolhidos estoques, pedaços de pau, tesouras e até foices usadas pelos detentos rebelados
5 de janeiro de 2014 - Dezoito presos se amotinaram na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara. Durante uma hora eles negociaram transferência para o interior do estado. Um agente foi mantido refém pelos presos.
09 de janeiro de 2014 - Um agente penitenciário foi mantido refém por presos da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), na Região Metropolitana de Curitiba. Os presos pediam transferência para penitenciárias de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná.
15 de janeiro de 2014 - Após três horas de motim, presas do Centro de Regime Semiaberto Feminino (Craf) de Curitiba libertaram duas agentes penitenciárias que foram feitas reféns. As detentas pediam melhorias em higiene e limpeza, além de tratamento semelhante ao que ocorre na Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara.
16 de janeiro de 2014 - Um agente penitenciário foi mantido refém durante 16 horas na PCE, em Piraquara. Os presos pediam transferências para Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu.
10 de fevereiro de 2014 - Vinte e quatro presos, que pediam transferência para outros presídios do estado, mantiveram um agente penitenciário como refém na PEP II. O agente foi libertado após cinco horas de negociações.
06 de março de 2014 - Presos que reivindicavam transferências para Londrina e Francisco Beltrão mantiveram por 15 horas dois agentes penitenciários como reféns na PEP I. As negociações duraram poucas horas, mas os presos se recusaram a viajar de noite, o que fez com que o motim terminasse somente após 15 horas.
10 de março de 2014 - Na PEP II, durante quatro horas um agente penitenciário ficou nas mãos de seis presos que pediam transferências para Guarapuava. Os presos foram transferidos e o agente liberado após negociação.
19 de março de 2014 - Dois agentes carcerários que escoltavam presos foram dominados pelos detentos na PEP I. Os presos libertaram os agentes após conseguirem transferência para cidades de origem. Foram 15 horas de negociação.
19 de março de 2014 - Também na PEP I, durante uma hora um agente foi dominado por presos que pediram transferência para Maringá, no Noroeste do Paraná.
16 de abril de 2014 - No Presídio Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, foram oito horas de negociação até que os detentos libertaram um agente penitenciário. Os motivos da rebelião não foram informados, mas o presídio sofre com falta de vagas.
01 de maio de 2014 - Em Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro, presos da Cadeia Pública do município se rebelaram e pediram transferência. Alguns deles foram colocados em liberdade, pois já haviam cumprido pena.
14 de julho de 2014 - Três agentes carcerários foram feitos reféns na cadeia pública de Telêmaco Borba. O motim durou cerca de 17 horas. Antes do motim, houve tentativa de fuga.
17 de julho de 2014 - Por 16 horas, presos da PEP II realizaram um motim. Quatro presos pediam transferência para Londrina. Um agente na penitenciária foi mantido sob domínio dos presos.
22 de julho de 2014 - Quatro presos se rebelaram e mantiveram um agente refém na PCE. Eles pediam transferência para outras unidades prisionais do Complexo Penitenciário de Piraquara (CCP).
22 de julho de 2014 - Na Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu I (PEF I), no Oeste do Paraná, dois agentes foram mantidos sob domínio de dezesseis presos por seis horas. A exigência também era de transferência para outras unidades prisionais do estado.
24 de agosto - Na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), dois agentes penitenciários foram mantidos reféns por cerca de 45 horas. Cinco pessoas morreram no motim e outras 25 ficaram feridas no motim mais violento do Paraná dos últimos quatro anos.
9 de setembro - três agentes penitenciários foram mantidos como reféns por um grupo de 14 presos na cadeia pública de Guarapuava, na região Centro-Sul do Paraná. Os detidos concordaram em liberar os funcionários da prisão depois de acertar a transferência de 74 presos para outras penitenciárias do estado. O motim terminou sem feridos nem mortos.
10 de setembro - 77 presos foram transferidos da Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (PECO), no Noroeste do Paraná, depois de um motim de 18 horas. Foram 13 reféns, sendo 12 presos e um agente penitenciário.
12 de setembro - presos do bloco 3 da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), na Região Metropolitana de Curitiba, mantiveram dois agentes penitenciários reféns por 25 horas. Após o acerto de transferências, agentes e presos que também eram mantidos reféns foram liberados e ninguém ficou ferido.
16 de setembro - um segundo motim ocorreu em um intervalo de menos de uma semana na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II). Dois agentes penitenciários foram feitos reféns durante mais de 30 horas, período em que a rebelião perdurou. O principal motivo da revolta era o medo que os presos rebelados têm de detentos de uma facção rival. Ninguém ficou ferido.